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    A duas semanas da Olímpiada, parte da programação cultural é suspensa

    ANGELA BOLDRINI
    DE SÃO PAULO

    22/07/2016 02h00

    A duas semanas do início da Olimpíada do Rio de Janeiro, o MinC (Ministério da Cultura) e a APO (Autoridade Pública Olímpica) cancelaram a contratação de atrações paralelas ao calendário oficial do evento esportivo.

    Segundo produtores, apresentações que seriam contratadas via Funarte (Fundação Nacional de Artes) e APO –instituição que reúne União, Estado e município do Rio para a realização dos jogos– foram retiradas da programação no início de julho.

    Ricardo Borges/Folhapress
    Rio de Janeiro, RJ, BRASIL. 230/06/ 2016; Tunel que liga Botafogo a Copacabana recebe decoracao para os jogos olimpicos Rio2016 que comecam em Agosto. (Foto: Ricardo Borges/Folhapress) *** EXCLUSIVO FOLHA ***
    Produtores ouvidos pela reportagem estimam que R$ 5 milhões seriam destinados às atrações suspensas

    Alexis Anastasiou, da produtora Visualfarm, diz que as tratativas com a Funarte para a realização de um festival de projeção de luzes na baía de Guanabara em 30 e 31 de julho foram interrompidas no dia 8 deste mês.

    "Nosso projeto havia sido aprovado pelo Juca [Ferreira, ex-ministro] e, quando a nova gestão assumiu, ele foi aprovado novamente", afirma o produtor. "Mandamos a documentação, fizemos três reuniões com a Funarte, o projeto estava na fase formal de contratação."

    De 6 de julho, um e-mail de uma funcionária da Funarte diz: "Hoje teremos uma reunião com a procuradoria. E se tudo der certo (e dará) amanhã mesmo já vamos tramitar a contratação da Visualfarm".

    O caso do festival de luzes não é o único relatado à Folha. Outra produtora, Margareth Reali, afirma que as apresentações dos pianistas Eumir Deodato e Cristóvão Bastos, parte da programação do "piano no Arpoador", foram dispensadas em 15 de julho.

    Os shows seriam nos dias 19 e 20 de agosto. "Eu tinha alinhavado outro show para o Eumir para poder dividir os custos da passagem [o pianista vive nos EUA] e tive que mudar a data." Segundo ela, já havia sido feita a carta de anuência dos artistas, penúltima etapa antes do contrato.

    Situações semelhantes ocorreram com o artista plástico italiano Giancarlo Neri, que faria uma instalação orçada em R$ 632 mil, a "Praça Paris", cancelada também há uma semana, e com os projetos da Fundação Palmares, de cultura afrobrasileira.

    O diretor Elísio Lopes, responsável pela performance "Filhos do Brasil", da Palmares, afirmou que foi avisado da suspensão em 12 de julho. "Estamos tocando o projeto desde março, eram mais de 60 pessoas ensaiando", diz.

    O projeto seria realizado com recursos repassados para a Universidade Federal Fluminense. Produtores ouvidos pela reportagem estimam que R$ 5 milhões seriam destinados às atrações suspensas.

    Vanessa Damasco, diretora de produção da Fundição Progresso –espaço do governo do RJ sobe custódia privada que receberia R$ 10,4 milhões via Funarte– confirmou a redução na programação, mas não quis detalhar, por afirmar que a situação ainda está "em diálogo".

    Em comum, os projetos de Anastasiou, Reali, Neri e Lopes têm a curadoria de José Mauro Gnaspini, criador da Virada Cultural de São Paulo e coordenador da programação cultural pública dos Jogos Olímpicos.

    Desde o início do ano como assessor da diretoria de serviço da APO, ele foi exonerado do cargo –a decisão foi publicada na quarta-feira (20) no Diário Oficial da União. Procurado pela reportagem, Gnaspini disse que não comentaria o caso.

    Fontes ouvidas pela Folha afirmaram que um dos motivos para a suspensão de apresentações e a exoneração de Gnaspini seria um temor do governo de que as atrações escolhidas pudessem se tornar "'fora Temer' generalizado".

    "É possível, porque há no movimento negro um desacordo muito grande com essa gestão", diz Lopes. "Mas nossos artistas são profissionais."

    OUTRO LADO

    O MinC afirmou, via assessoria de imprensa, que as atrações culturais na Olimpíada contratadas por meio de editais estão asseguradas. Sobre a programação suspensa, afirmou que elas estão "passando por ajustes".

    A APO disse à Folha que Gnaspini foi exonerado por "não serem mais necessários seus serviços à Autoridade Pública Olímpica". A respeito das suspensões, a instituição diz que "nunca foi responsável pela negociação de contratos culturais, prestamos apoio ao grupo executivo do Ministério da Cultura".

    Procurada, a Funarte não respondeu aos questionamentos da reportagem.

    Estão confirmadas apresentações da Orquestra Sinfônica Brasileira e da Companhia de Dança Deborah Colker, já em cartaz.

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