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    'Tem boi na linha', diz novo diretor sobre problemas e reforma do MAC

    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    22/07/2016 02h01

    No comando do Museu de Arte Contemporânea da USP há uma semana, Carlos Roberto Ferreira Brandão reconhece que o futuro de uma das maiores instituições de arte da América Latina, com 11 mil obras no acervo, é um grande ponto de interrogação.

    "Tem boi na linha", ele diz, em sua primeira entrevista como diretor, no sexto andar do MAC. "Não temos laudos técnicos nem clareza das dificuldades que enfrentamos."

    Karime Xavier/Folhapress
    SÃO PAULO / SÃO PAULO / BRASIL -19 /07/16 -15 :00h - Retrato de Carlos Brandão, o novo diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP, no MAC-USP. ( Foto: Karime Xavier / Folhapress). ***EXCLUSIVO***ILUSTRADA
    Carlos Brandão, o novo diretor do Museu de Arte Contemporânea da USP

    Brandão, que há um mês trocou a "situação aguda" de Brasília, onde presidia o Instituto Brasileiro de Museus, órgão do Ministério da Cultura, para se candidatar à direção do MAC, diz se sentir em casa de volta à USP. Ele trabalha na universidade há mais de 40 anos, tendo comandado por último o Museu de Zoologia.

    Mas toda essa experiência parece desafiada agora pela forte turbulência enfrentada pelo MAC, que ficou sem um diretor de fato desde que Hugo Segawa se demitiu em novembro do ano passado.

    Sua interina, Kátia Canton, que continua como vice de Brandão até 2018, tentou reformar sem sucesso a reserva técnica do museu. O espaço onde são guardadas as obras fora de exibição corre risco de inundações e, por isso, não pode receber a coleção. Em paralelo, a USP pressiona para que as obras saiam da Cidade Universitária, já que tem outros planos para o antigo MAC.

    Orçadas a princípio em R$ 8 milhões, depois que a Secretaria de Estado da Cultura gastou R$ 80 milhões para transformar o antigo Detran em museu, as obras do porão agora não têm prazo para conclusão nem um custo definido.

    Brandão, que compara qualquer mudança na "estrutura pesada" da instituição a uma "operação de guerra", promete, por enquanto, instalar o restaurante na cobertura do MAC até dezembro. A oposição do conselho do museu aos termos de contratação do restaurante –agora já licitado e com empresa vencedora definida– foi o pivô da saída do ex-diretor de seu cargo, uma situação já "apaziguada", segundo Brandão.

    Outra promessa é melhorar a relação do MAC, visto como isolado da cena artística e fora de sintonia, com outros museus da cidade e com a Bienal de São Paulo, que começa em setembro –a mostra de longa duração do acervo, que estreia no mesmo mês, vai destacar, por exemplo, as obras que entraram para a coleção como prêmios de aquisição da Bienal.

    Ele também quer convidar grafiteiros para pintar a empena cega do MAC. Mesmo chamativa, a medida parece cosmética se levado em conta que o museu foi aberto há quatro anos e até agora as reformas ali não terminaram.

    Do lado de dentro, outro plano é mudar o ponto de entrada do MAC, que passaria a ser em frente aos elevadores. A ideia é procurar um espaço definitivo para a biblioteca, hoje separada só por cortinas do resto do saguão.

    Mudanças físicas à parte, Brandão diz que assume agora uma posição de caráter administrativo, sem traçar um rumo ou identidade conceitual para o museu, e diz querer reforçar laços também com os consulados da cidade, já que outros países podem então bancar as exposições –o MAC, com um orçamento anual de cerca de R$ 24 milhões, diz que não tem e nem terá dinheiro para realizar grandes mostras.

    Quando não vierem de fora, o que arrisca reduzir o MAC a um balcão de exposições, as mostras serão idealizadas por docentes ligados ao museu.

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