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    Crítica

    Clara e divertida, 'Turing' testa previsibilidade humana

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    28/07/2016 17h53

    Mais do que robôs, "O Teste de Turing" é sobre homens, especificamente os professores que vão questionar uma máquina e passam a ser questionados por ela. Suas motivações, suas emoções são colocadas em xeque.

    A máquina surge olímpica, vitoriosa antes de começar o espetáculo. O que está em teste é menos a humanização do robô, objeto da prova que dá título à peça, e mais a desumanização do homem.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Sao Paulo, SP, Brasil. Data 13-07-2016. Espetaculo O Teste de Turing. Atriz Maria Manoella. Centro Cultural Sao Paulo - Sala Jardel Filho. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress
    Maria Manoella e, ao fundo, projeções dos demais atores

    A própria fórmula do teste original, com dois humanos e uma máquina num diálogo em que esta mimetiza reações humanas, é alterada no palco: o segundo humano acaba sendo o espectador, previsível, programável.

    Pode ser frustrante para fãs de ficção científica juvenil, que talvez prefiram a máquina humanizada, um C-3PO, não o contrário. Mas não deixa de ser divertida.

    E é da tradição do elo entre teatro e sci-fi, que caminham mais próximos do que se pensa –a começar da lendária peça tcheca que gerou a palavra robô há um século, "R.U.R.", que ganhou versão recente em São Paulo.

    Naquela peça, escrita sob o impacto de toda a engenharia social da época, os robôs são representações do homem tornado escravo, daí "robot", que viria de servo em tcheco. "O Teste de Turing" vai pelo mesmo caminho.

    Seu autor, Paulo Santoro, é dramaturgo conhecido por peças intrincadas como a tocante "A Mulher que Ri", de 2008 —e recentemente por criar o "card game" distópico "Deterrence 2x62".

    A peça foi escrita em 2004, é também intrincada, mas surge simples no palco, efeito talvez da popularização do matemático Alan Turing por meio do filme hollywoodiano "O Jogo da Imitação" (2014).

    O que também torna digeríveis os temas emaranhados da peça são a direção de Eric Lenate, que conduz o público com pistas claras e humor, e a atuação de Maria Manoella, ao mesmo tempo envolvente e fria como uma replicante de "Blade Runner".

    Dois pontos a questionar. Primeiro, a construção dos professores é indiferenciada, superficial, como tipos, não personagens –o que pode ajudar em sua "desumanização", mas enfraquece o conflito –e a atenção.

    Mais importante, numa peça sobre o futuro, como aliás aponta o próprio programa, "O Teste de Turing" adota o formato tradicional, marcadamente retórico, da "pièce à thèse", peça de tese. Nada da ficção científica kitsch de "R.U.R.", por exemplo.

    O TESTE DE TURING
    QUANDO Sex. e sáb., às 21h, dom., às 20h; até 7/8
    ONDE Centro Cultural São Paulo, r. Vergueiro, 1.000, tel. (11) 3397-4002
    QUANTO: R$ 10; 14 ANOS

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