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    Grupo diz ter recebido menos que o declarado pelo Theatro Municipal

    GUSTAVO FIORATTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    03/08/2016 02h25

    O diretor do grupo catalão La Fura dels Baus, Carlus Padrissa, afirmou, em depoimento ao Ministério Público Estadual, ter recebido valor diferente do que o Theatro Municipal de São Paulo diz ter pago ao agente do grupo, Valentin Proczynski, pelo espetáculo "El Amor Brujo", que ficou em cartaz de 27 a 31 de julho.

    Padrissa depôs na semana passada, durante investigação sobre irregularidades no teatro. O espanhol disse que a parte que cabia ao Municipal na coprodução da peça era de 35 mil euros (R$ 128 mil) pela criação artística. Sua declaração foi confirmada pela promotoria.

    Já a direção da Fundação Theatro Municipal diz ter pago 240 mil euros (R$ 878 mil) a Proczysnki, dos quais 76.250 euros (R$ 278 mil) teriam sido destinados à criação da peça.

    Gerard Julien/AFP
    TOPSHOT - A dancer of "La Fura dels Baus" company performs during a general rehearsal of Manuel de Falla's opera " El Amor Brujo", directed by Carlus Padrissa at the Canal theatre in Madrid on May 5, 2016. / AFP PHOTO / GERARD JULIEN ORG XMIT: GJ5719
    Bailarina da companhia La Fura dels Baus durante 'El Amor Brujo'

    O restante, diz a fundação, estaria subdividido em "contrato de serviços do grupo La Fura dels Baus" (81.247 euros), "contrato dos artistas" (19,5 mil euros), "comissão de agenciamento" (36 mil euros) e "despesas administrativas" (27 mil euros), sendo que os últimos dois itens são de responsabilidade de Proczynski.

    A Folha teve acesso ao contrato firmado entre Proczynski e o La Fura dels Baus. O documento revela que os 76.250 euros são de responsabilidade de um grupo formado por três instituições: o Theatro Municipal de São Paulo, o Comunale di Bologna e uma terceira casa a ser determinada "mais adiante".

    SUSPEITAS

    As investigações -uma delas corre em CPI na Câmara dos Vereadores- buscam apurar se houve superfaturamento do espetáculo com suposto desvio de verba, bem como se o maestro John Neschling, diretor artístico do Municipal, pode ter privilegiado o agente ao compor a programação da casa -Proczynski representa o músico no exterior.

    O agente conseguiu vender ao Municipal três participações do La Fura dels Baus na gestão Neschling: além de "El Amor Brujo", houve a criação de espetáculo de luzes e projeções para o concerto "Trilogia Romana" (2014) e o projeto de "Alma Brasileira".

    Este último foi cancelado, mesmo após ter sido pago a Proczynski cerca de R$ 1 milhão. O valor não foi restituído.

    Embora o foco da programação do Municipal seja ópera, o La Fura é mundialmente célebre por espetáculos teatrais de impacto visual e interpretações de rigor físico.

    INVESTIGAÇÃO NA ITÁLIA

    Argentino, Proczynski dirige uma empresa chamada Old and New Montecarlo, com sede em Mônaco.

    Em 2005, seu nome apareceu no relatório de uma investigação do Senado italiano sobre irregularidades no teatro Scalla de Milão.

    "A remuneração dos artistas cresceu enormemente em casos de sua intermediação", diz o documento, publicado no site da instituição.

    Além de intermediar negociações de espetáculos do La Fura dels Baus, Proczynski também levou ao Municipal, na temporada de 2016, a ópera "Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk", que o teatro Helikon de Moscou estreou há 15 anos. Segundo o Municipal, foram pagos 240 mil euros (R$ 878 mil) pela apresentação.

    OUTRO LADO

    Procurado pela reportagem, Carlus Padrissa disse que, por contrato, não pode comentar valores da turnê.

    Proczynski também foi procurado, por e-mail e telefone, mas não houve resposta.

    O advogado de Neschling, Eduardo Carnelós, diz que, apesar de o contrato entre Old and New Montecarlo e La Fura ter sido entregue ao Ministério Público pelo representante do grupo catalão, ele não foi juntado aos autos do procedimento de investigação, "apenas o termo de depoimento prestado".

    Segundo o Ministério Público, houve demora, mas o referido contrato já foi incluído nos autos da investigação.

    A defesa do maestro diz ainda que o valor pago pela administração do teatro está dentro de parâmetros do mercado internacional. Também ressalta que Proczynski é apenas um dos representantes de Neschling no exterior.

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