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    Em nova série, Guilherme Fontes será âncora de TV que vira político

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    07/08/2016 02h04

    Na fachada, uma insuspeita distribuidora de água mineral. Nos fundos, um bar de apostas onde a jogatina corre solta –eis um dos ambientes por onde circulam os personagens de "A Lei", série que o canal pago Space roda em Belém e São Paulo para 2017.

    O cenário parece refletir o caráter do protagonista do seriado: Silas, um repórter inescrupuloso interpretado por Guilherme Fontes.

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    O ator Guilherme Fontes em cena da série "A Lei", que o canal Space estreia em 2017 Divulgação
    O ator Guilherme Fontes em cena da série "A Lei", que o canal Space estreia em 2017

    Diante das câmeras, é um apresentador exaltado que detona bandidos e cobra justiça. Nos bastidores, ele se envolve com contraventores e consegue noticiar um assassinato na frente da concorrência porque sabe do crime de antes mesmo da vítima.

    O jornalista comanda um programa policialesco extremamente popular na capital paraense. Ganha tanta credibilidade e poder que decide se lançar na política.

    A influência do estilo envolvente e, por vezes, agressivo de apresentadores como Ratinho, Datena e Marcelo Rezende é clara –tanto o diretor, Tomás Portella, quanto Fontes contam ter assistido a seus programas para a produção. No caso de Fontes, a principal referência foi o veterano Flávio Cavalcanti (1923-1986).

    "Todos são 'showmen'. Eloquentes, teatrais, e aprenderam a dominar a pausa para provocar emoção. Faço isso desde criancinha, como ator, mas é como se estivesse em um tom a mais", comenta o intérprete de Silas.

    Fontes nota semelhanças entre o apresentador sensacionalista e a versão de Assis Chateaubriand que dirigiu para o cinema. O filme "Chatô - O Rei do Brasil" foi lançado em novembro de 2015, após um rocambolesco imbróglio de vinte anos.

    Ele afirma que Silas e Chatô, pioneiro da televisão no Brasil, são representações do poder que o meio exerce sobre o público. Uma persuasão "que pode tanto levar à imbecilidade quanto a uma compreensão clara".

    "[Os apresentadores] têm uma responsabilidade muito grande, são muito importantes para a sociedade", diz Fontes. "É uma relação direta com o espectador. Quando você olha para a câmera e fala, está realmente olhando no olho do espectador que está em casa. Isso tem uma força."

    Tanto tem que, não raro, a popularidade se converte em um passaporte para a política –como Silas na ficção.

    Datena cogitou disputar as eleições para prefeito em São Paulo neste ano. Desistiu, mas a TV continua com um candidato: Celso Russomanno (PRB), protagonista de um quadro no programa policial "Cidade Alerta" (Record), lidera as intenções de voto na capital paulista.

    Ainda que esteja na pele de um comunicador com ambições eleitorais, Guilherme Fontes desaprova quem faz o mesmo fora da ficção.

    "Acho meio, digamos assim, desleal essa competição. Ele [o apresentador] sempre vai estar à frente por ser muito visto", justifica. "Em tese, não poderiam se candidatar. [O favoritismo] não significa que estejam preparados para lidar com o dia a dia da administração pública."

    FATURAS

    "A Lei" será o primeiro trabalho de Fontes desde 2014, quando esteve na novela "Boogie Oogie" (Globo).

    E o último por algum tempo: ele decidiu "dar uma folga como ator" depois de rodar as futuras temporadas da série. Estuda escrever e dirigir dois seriados de ficção: um sobre as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), no Rio, e outro sobre "religião no futuro", sem mais detalhes.

    O cinema ficou para trás com "Chatô": "A TV hoje está muito mais fácil de financiar [do que um filme], é menos longínquo".

    Enquanto isso, Fontes comemora uma decisão do Tribunal de Contas da União.

    Em junho, após longo trâmite, o órgão decidiu rever um recurso que pode isentá-lo de pagar R$ 66,2 milhões ao cofres públicos por não ter entregue o longa sobre Assis Chateubriand.

    "É aquela coisa, Justiça sendo feita. Tive uma paciência inacreditável."

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