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    'Sensualidade é tão brilhante quanto inteligência', afirma atriz Suzana Pires

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    09/08/2016 02h21

    Ser mulher é o problema da vez para Suzana Pires. Aos 40, a atriz global se tornará um caso raro no entretenimento brasileiro ao produzir, escrever e protagonizar três comédias para o cinema nos próximos cinco anos.

    O problema não está em ser mulher em uma indústria ainda refratária às cineastas. Divulgado em março, um relatório da Agência Nacional do Cinema atestou que elas dirigiram (19% dos filmes lançados), roteirizaram (23%) e produziram menos (41%) do que os homens em 2015.

    É, antes, o questionamento sobre o feminino e sobre a sexualidade que abordará em seus filmes. O primeiro deles, "De Perto Ela Não É Normal", é uma adaptação do monólogo que Suzana encena há dez anos sobre a vida e os problemas de uma brasileira comum, acompanhada desde a infância.

    Marcus Leoni/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL. 06.07.16, 14h: A atriz Suzy Pires, que produz, escreve, dirige e atua, prepara o primeiro dos tres filmes que lanca nos proximos cinco anos: "De Perto, Ela Nao e Normal", inspirado na peca q ela escreveu e encena ha dez anos. (Foto: Marcus Leoni/Folhapress, ILUSTRADA) ****EXCLUSIVO FOLHA****
    A atriz Suzana Pires posa em seu apartamento em São Paulo

    VOLÚPIA

    Coprodução da Globo Filmes com a Escarlate, o longa começa ser rodado em 2017 assim que ela terminar os trabalhos como coautora de "Sol Nascente", novela das 18h da Globo que estreia em 29 de agosto.

    "Somos criadas para estar lindas o tempo inteiro. [Na infância], não nos deixam brincar como os meninos, senão vai machucar. O que acontece é que a gente não quer mais ser perfeita, a gente quer se arriscar", teoriza a atriz, formada em filosofia pela PUC-RJ.

    Quando encontra a reportagem, vestindo um blazer preto e com os cabelos discretamente presos em um rabo de cavalo, o visual de Suzana pouco lembra o de sua última personagem na TV. Na novela "A Regra do Jogo", exibida pela Globo até março, ela viveu Janete, uma manicure batalhadora e voluptuosa.

    Reprodução
    Janete explode de vez com Mel
    Suzana Pires como Janete na novela 'A Regra do Jogo', da Globo

    Como roteirista e produtora, quer provar não só que essas duas imagens podem ser versões de uma mesma mulher, mas que "nossa sensualidade é tão brilhante quanto a nossa inteligência".

    O "problema" começou no início de 2015, quando ela viajou a Los Angeles para um curso de "showrunner". Figura da vez nos seriados americanos, é o profissional que dirige, escreve e produz —a poderosa Shonda Rhimes, de "Scandal" e "Grey's Anatomy", é um exemplo.

    "No primeiro dia, tomei um susto ao entrar na sala. As pessoas se surpreendiam: 'Como assim uma mulher latina é autora?'. Nós, mulheres latinas, fazemos parte de um estereótipo de mulher sensual", ela comenta.

    Voltou não só disposta a defender a aceitação da sexualidade feminina, que "ainda segura a mulher na curva", mas a aplicar fundamentos do seriado americano na teledramaturgia nacional.

    "Precisamos da segurança de estrutura do seriado americano. Todo episódio tem um evento forte, dentro de uma história que passa por todos os personagens", diz. "Na hora em que começarmos a fazer seriados muito bem estruturados, juntando com nosso talento para o drama: pronto."

    Ela poderá testar os ensinamentos em "Sol Nascente", folhetim que escreve em parceria com Julio Fischer e Walther Negrão, o mais longevo novelista brasileiro.

    O trio reedita a parceria de "Flor do Caribe" (2013), em que Suzana também atuou. No cinema, tem "Casa Grande" (2014) e "Tropa de Elite" (2007) no currículo como atriz.

    A novela está distante das tramas ambíguas que caracterizam a TV americana. Para Suzana, o sucesso do anti-herói em
    "Sopranos" correspondeu a um desejo do público "que não aguentava mais a perfeição".

    "A dramaturgia está aliada ao desejo de um coletivo", diz. Na atual crise política do Brasil, prefere "falar de pessoas que tenham relações verdadeiras". "Quem é amigo de alguém naquele lugar [Brasília]? Quem tem coerência neste país? Preciso de personagens coerentes, porque todo mundo sente falta disso."

    "Sol Nascente" narra o romance entre dois amigos de infância, vividos por Bruno Gagliasso e Giovana Antonelli. São filhos de imigrantes, ele de italianos e ela, japoneses.

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