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    Suspense teatral tem aspectos cômicos e clima noir à 'Crepúsculos dos Deuses'

    GUSTAVO FIORATTI
    COLABORAÇÃO PARA FOLHA

    09/08/2016 14h07

    Embora seja definido por seus criadores como um suspense, "As Luzes do Ocaso", espetáculo que estreia no CCBB, toca seus primeiros acordes em tom cômico. O gênero da obra parece então desfocado: se é um suspense, porque a plateia está dando risada?

    O que explica o desvio é que, a rigor, o início da montagem se dedica a parodiar histórias clássicas de mistério, trazendo para a cena climas que, de tão repetidos, tornaram-se risíveis. "Não existe mais história original no mundo; a única coisa que pode ser original hoje é o jeito de contar", diz o autor da peça, Mauricio Guilherme, atribuindo a frase ao diretor Vincent Minnelli (1903-1986).

    Priscila Prade/Divulgação
    As Luzes do Ocaso - credito_PriscilaPrade
    Giovani Tozi e Magali Biff em cena de "As Luzes do Ocaso"

    O espetáculo tem como protagonista uma ex-vedete brasileira (Magali Biff). Ela vive reclusa em uma casa afastada da vida urbana, na companhia de um mordomo (Paulo Goulart Filho). Mantém a pose de estrela e o figurino usado nos velhos tempos intacto no guarda-roupa. Seu cotidiano será quebrado pela chegada de um terceiro personagem, um rapaz mais jovem.

    Guilherme diz que o background para a história vem de imersões em um cineclube particular. Todo domingo, ele e Giovani Tozi, ator que interpreta o jovem rapaz na peça, assistem a filmes, ou de um mesmo diretor ou de um mesmo ator. A inspiração para criar "As Luzes do Ocaso" veio do clima noir de "Crepúsculos dos Deuses", filme dos anos 1950 que tem no centro a figura de uma artista decadente, ciosa da vida passada. A personagem foi interpretada por Gloria Swanson.

    Não dá pra continuar a sinopse de "As Luzes do Ocaso" a partir daqui, com risco de spoiler. Mas não é problema dizer que a comicidade se esvai conforme o espetáculo progride, lançando o espectador em terreno menos estável. "O suspense vai aumentando", diz Guilherme. "Essa rasteira na dramaturgia causa uma insegurança boa. O espectador percebe que não está dominando a história. Ele achava que estava pisando em um chão, mas estava em outro".

    A direção de Neyde Veneziano, segundo o autor, também responde por um outro tipo de atrito. Autora dos livros "As Grandes Vedetes do Brasil" (Imprensa Oficial) e "O Teatro de Revista no Brasil" (SESI-SP Editora), ela valoriza, em cena, números musicais com menções ao teatro de revista, gênero que, a priori, não tem absolutamente nada a ver com mistérios americanos. O cenário é composto de um jogo de espelhos, cujos módulos se movem pelo palco.

    O crash de estampas não interfere, porém, na linearidade narrativa. "O teatro [contemporâneo] foi se transformando em um palanque de ideias e de metáforas. O valor desses filmes antigos, para mim, é que eles têm boas histórias. Você pode depois tirar suas camadas de entendimento, mas se você chegar ao teatro desinformado de todas as estéticas que o teatro está discutindo, você embarca e vai quer saber onde a trama termina", diz o autor.

    AS LUZES DO OCASO
    ONDE Centro Cultural Banco do Brasil, rua Álvares Penteado, 112, tel. (11) 3113-3651
    QUANDO Qua., qui. e sex., às 20h; até 7/10
    QUANTO R$ 20
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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