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    Crítica

    'The Get Down' tem visual estilizado e os dois pés na cafonice

    ANDRÉ BARCINSKI
    CRÍTICO DA FOLHA

    11/08/2016 02h07

    Em 1977, Nova York era a capital mundial da música pop: o Studio 54 sacolejava com a discoteca; no Paradise Garage, o DJ Larry Levan ajudava a inventar a house music, enquanto o CBGB abrigava a cena punk/new wave. No distrito do Bronx, DJs, MCs, dançarinos e grafiteiros criavam as bases do hip-hop.

    Mas nem tudo era festa: enquanto a música tomava conta da cidade, a violência e as drogas também reinavam. Nova York vivia uma de suas fases mais brutais, com altíssimos índices de criminalidade e conflitos raciais sangrentos.

    "The Get Down" começa justamente no Bronx, em 1977, e fala de um grupo de jovens, liderado pelo talentoso poeta Zeke Figuero (Justice Smith), que se tornaram astros do hip-hop. A série foi criada e dirigida por Baz Lurhmann, e quem já viu "Moulin Rouge!" ou "Romeu e Julieta" sabe o que esperar: visual fortemente estilizado, histórias dramáticas com dois pés na cafonice e atuações caricatas de musical da Broadway.

    Lurhmann tem ojeriza a qualquer traço de realismo e é incapaz de filmar um gulag da Rússia stalinista sem deixá-lo parecendo um quadro de Romero Britto.

    Em "The Get Down", até os terrenos baldios do Bronx são bonitos e coloridos. Nas ruas, os moradores não andam, mas desfilam, as meninas enfiadas em sensuais vestidos justos e os rapazes ostentando afros impressionantes e tênis brilhantes. Tudo é coreografado e irreal. Os personagens são arquétipos: Zeke é sensível e melancólico. Ele é apaixonado por Mylene (Herizen Guardiola), uma visão do céu e com uma voz que deixa Whitney Houston no chinelo. Mylene sonha em ser cantora, mas seu pai, um pastor caretão, acha a música obra do diabo. Que novidade.

    O episódio piloto da série tem 90 minutos e beira o insuportável, com exceção de dois números musicais extremamente bem filmados e coreografados. Mas a riqueza de produção, a ótima música e os cenários suntuosos (embora imitem prédios dilapidados) devem agradar a alguns. Boa sorte a todos com o resto da série. Para os que não têm paciência para um Bronx com verniz de comercial de TV, recomendo outro filme disponível no Netflix, o excelente documentário "Rubble Kings", sobre os conflitos entre gangues no Bronx nos anos 1970.

    NA INTERNET

    The Get Down
    QUANDO: A partir de sexta (12), na Netflix

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