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    Peça 'Neva' vai à Rússia czarista para criar metéfora da ditadura chilena

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    14/08/2016 01h45

    Renato Mangolin/Divulgação
    Atores Michelle Goncalves (esq,), Ernani Sanchez e Flavia Melman na peca "Neva", montagem do coletivo Isto Nao E um Grupo para texto do chileno Guillermo Calderon FOTO Renato Mangolin/Divulgacao
    Michelle Gonçalves (esq,). Ernani Sanchez e Flávia Melman na montagem brasileira de 'Neva'

    Para falar do história política recente de seu país, o dramaturgo chileno Guillermo Calderón, 45, voltou à Rússia pré-revolução de 1905.

    "A Revolução Russa é um processo cheio de dor e otimismo. Nesse sentido, se parece muito com o processo que viveu o Chile no início dos anos 1970 [quando começou a ditadura de Pinochet] e que continua definindo o país até hoje", diz à Folha o dramaturgo.

    Assim nasceu "Neva", peça de 2006 de Calderón –hoje uma das figuras mais proeminentes do teatro latino-americano, que tem como marca encenações secas e políticas.

    O texto, um dos mais aclamados de Claderón, agora ganha sua primeira montagem brasileira, que estreia neste fim de semana. A tradução foi feita por Celso Curi há cerca de sete anos, mas só agora ganhou o palco, nas mãos do coletivo Isto Não É um Grupo.

    O espetáculo é o primeiro de uma trilogia do autor que se propõe a investigar a história política do Chile. O segundo, "Classe" (2008), se passa no presente e fala dos traumas deixados pela ditadura no país. "Dezembro" (2009), o último, que já ganhou montagem do Isto Não É um Grupo no ano passado, retrata uma guerra num futuro próximo.

    "Neva" leva o nome do rio que cruza São Petesburgo. Passa-se toda em um teatro da cidade russa. Três atores –uma delas Olga Knipper, viúva de Anton Tchékhov– tentam ensaiar uma montagem de "O Jardim das Cerejeiras", último texto do dramaturgo russo. Ficam enclausurados enquanto, do lado de fora, eclode o Domingo Sangrento, massacre de manifestantes que protestavam contra o czar.

    Na versão brasileira, "as convenções do teatro ficam escancaradas", diz o diretor Diego Moschkovich. O público é alocado em duas arquibancadas frente a frente, e a encenação acontece no meio, como se a plateia fizesse as vezes das paredes do teatro.

    Também ecoam ali questões recentes da política e da sociedade brasileira, afirma o encenador. "Gosto do fato de ser um dramaturgo nosso, latino-americano, falando dessa realidade tão longínqua, mas muito similar à nossa."

    NEVA
    QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom., às 20h; até 4/9
    ONDE Centro Cultural SP, r. Vergueiro, 1.000, tel. (11) 3397-4002
    QUANTO R$ 20; 12 anos

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