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    Eva Wilma e Nicette Bruno se reencontram em suspense teatral

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    19/08/2016 02h08

    Só durante os ensaios da peça "O que Terá Acontecido a Baby Jane?", que estreia nesta sexta (19), é que Eva Wilma, 82, e Nicette Bruno, 83, se deram conta que seu primeiro encontro profissional se dera seis décadas antes. "Lembramos que subimos ao palco do Theatro Municipal do Rio em 1954 com 'Lição de Botânica', de Machado de Assis", diz Eva.

    Antes do reencontro no palco, porém, era vívida sua memória das gravações, em Carapicuíba (região metropolitana de São Paulo), de "Meu Pé de Laranja-Lima", novela de 1970. "Eu me lembro da figura da Nicette caindo da charrete", ri a colega.

    "O Gianfrancesco Guarnieri fazia um mascate e usava uma túnica com uma série de badulaques", conta Nicette. "Na hora de gravar, o cavalo se assustou, empinou e eu caí, assim, entre a boleia e o cavalo."

    A sintonia, dizem, continuou durante o processo da nova peça. "Teve um período em que a gente acordou todas as noites –e nós não combinamos!– às 3h da manhã para pegar o texto", diz Eva.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Sao Paulo, SP, Brasil. Data 08-08-2016. Espetaculo O que teria acontecido a Baby Jane. Atrizes Eva Wilma (roupa clara) e Nicette Bruno (roupa escura). Teatro Porto Seguro. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress
    Nicette Bruno (à esq.) e Eva Wilma como Blanche e Baby Jane Hudson durante ensaio da peça

    O texto em questão é a primeira versão teatral do suspense "O que Terá Acontecido a Baby Jane?", livro de 1960 de Henry Farrell, agora montado por Charles Möeller e Claudio Botelho –é a primeira produção não musical da dupla de encenadores.

    As irmãs Baby Jane (Eva) e Blanche Hudson (Nicette) vivem enclausuradas em uma mansão decadente de Los Angeles desde o acidente que deixou Blanche, antiga estrela do cinema, paraplégica.

    Ela depende dos cuidados de uma temperamental Jane. Esta fizera sucesso quando criança no teatro de vaudeville, mas viu com inveja a irmã conquistar fama e foi renegada a papéis coadjuvantes nos filmes de Blanche.

    A história ficou conhecida pela adaptação cinematográfica, dirigida em 1962 por Robert Aldrich e protagonizada por Bette Davis e Joan Crawford. Com o sucesso do filme, o próprio Farrell começou a verter a trama ao teatro, mas o texto ficou incompleto após a morte do autor, em 2006.

    Foi essa versão que chegou há quase dois anos às mãos de Möeller e Botelho, via um agente da dupla em Nova York. Na peça, como no livro, Farrell narra em detalhes o passado das irmãs (o que ficou de fora do filme). Para a montagem brasileira, Möeller decidiu costurar essa história pregressa ao presente.

    Versões de Jane e Blanche quando crianças e jovens –interpretadas por Sophia Valverde e Duda Matte e por Rachel Rennhack e Juliana Rolim, respectivamente– surgem em meio à trama, como personificações da memória dessas irmãs. "São os nossos fantasminhas", brinca Eva.

    LABIRINTO

    O cenário funciona como um labirinto, como se elas "não conseguissem sair do lugar", explica Möeller. Para reforçar o clima de suspense, é forte a presença da música, que remete a filmes americanos dos anos 1950 e 60, com composições de nomes como Bernard Herrmann (que trabalhava com Hitchcock).

    Mas o que se faz mais presente é a relação quase doentia entre as duas, por mais que seja mascarada de afeto. Como diz Blanche em cena: "Somos irmãs, cuidamos uma da outra. É isso que fazemos".

    "A peça fala de ódio, intriga. A gente está falando da gente mesmo", diz Möeller, num paralelo entre a história e o meio artístico. "Esse tipo de gente é muito próxima de nós."

    "A vida é feita de Janes e de Blanches", continua Botelho, que, no fim de março, esteve no centro de outro embate, que tomou as redes sociais.

    Durante uma apresentação de "Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos", ele fez um improviso criticando Dilma e Lula. A plateia reagiu, e Botelho e o público discutiram. Chico chegou a desautorizar que o ator a usasse novamente sua obra na peça, mas voltou atrás após um pedido de desculpas de Botelho.

    "Foi muito cruel, muito difícil para mim", conta Botelho. "Não atrapalhou meu trabalho, continuei produzindo. Mas, infelizmente, vivemos num país bastante dividido."

    O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE?
    QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom., às 19h; até 30/10
    ONDE Teatro Porto Seguro, al. Barão de Piracicaba, 740, tel. (11) 3226-7300
    QUANTO R$ 90 a R$ 120
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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