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    Com espetáculo 'Nós', Grupo Galpão debate contexto político brasileiro

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    18/08/2016 17h00

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Sao Paulo, SP, Brasil. Data 16-08-2016. Espetaculo Nos. Atores Teuda Bara (esq/microfone na mão), Chico Pelucio (camisa branca) Paulo André (manga comprida azul), Júlio Maciel (camiseta vermelha), Eduardo Moreira (de ponta cabeça), Antonio Edson (camisa azul/dir) e Lydia Del Picchia (vestido verde). Teatro Sesc Anchieta. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress
    Da esquerda para a direita, os atores Teuda Bara, Chico Pelúcio, Paulo André, Júlio Maciel, Eduardo Moreira, Antonio Edson e Lydia Del Picchia em cena de 'Nós', nova montagem do Grupo Galpão

    "Nós", do Grupo Galpão, se coloca em uma encruzilhada: "Para onde ir?", questiona-se a companhia mineira. O espetáculo, que estreia nesta quinta (18) em São Paulo após temporadas em Belo Horizonte e no Rio, surgiu de inquietações sobre o atual contexto social e político brasileiro.

    O texto foi construído a partir de provocações do diretor Marcio Abreu. Um grupo formado estritamente por atores, o Galpão sempre convida encenadores de fora. Com Abreu, diretor da Companhia Brasileira de Teatro, o coletivo mineiro se distancia da pesquisa de teatro popular e de textos clássicos à qual estava habituado e se aproxima da performance.

    Dessa forma, "Nós" nasce de improvisos. Abreu questionou os sete atores sobre temas como alteridade, o que é público ou privado. Também buscou-se referências em obras contemporâneas, como "Ódio à Democracia", ensaio do francês Jacques Rancière. Dali apareceram discussões sobre a violência, fatos políticos recentes, a tragédia em Mariana (MG).

    Veja teaser da peça

    Mas, na peça, os temas não surgem explícitos. Escrita por Abreu e pelo ator Eduardo Moreira a partir dos improvisos do grupo, a dramaturgia gira em torno de personagens não muito bem definidos, sem nome ou profissão. Seriam "um pouco de todos nós, atores, público", diz Moreira.

    Em cena, preparam uma sopa, como se estivessem reunidos para uma celebração. Perdem-se em conversas cotidianas, mas logo fogem do realismo. Frases soltas, constantemente repetidas, nos contam de um garoto negro humilhado por policiais, de meninas sequestradas, de escolas públicas que foram fechadas.

    O tom performático ainda está na cena em que a atriz Lydia Del Picchia dança flamenco sobre a mesa de refeição –e é acompanhada do tilintar dos copos, que tremem com a força dos passos. Ou naquela em que o grupo canta "Lama", de Mauro Duarte, com o tom festivo e melancólico de uma banda carnavalesca.

    Muito se toca também no tema da inércia. "É a questão de como a gente se posiciona hoje, como a gente se coloca diante do imponderável dos acontecimentos atuais", explica o diretor.

    Mas as questões políticas, diz Abreu, ficam abertas à interpretação do público. Há um momento em que uma personagem é colocada para fora contra a sua vontade. "Pode ser lida como uma referência ao afastamento da presidente Dilma, mesmo que a cena tenha sido criada antes do processo de impeachment."

    No fundo, estão ali as questões de alteridade propostas no processo de criação. Para seguir a ideia de comunhão, tudo é feito de forma intimista, perto do público: parte da plateia é disposta em arquibancadas sobre o palco, e a tal sopa, servida aos espectadores.

    NÓS
    QUANDO qua. a sáb., às 21h, dom. e feriados, às 18h; até 11/9
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