Kristin Hayes/Divulgação | ||
O roteirista Terry Hayes, autor de "Eu Sou o Peregrino" |
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Ilustrada
Tuesday, 14-May-2024 14:43:57 -03CRÍTICA
Terry Hayes mostra limitações em thriller 'Eu Sou o Peregrino'
SANTIAGO NAZARIAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA22/08/2016 02h01
Britânico radicado na Austrália, Terry Hayes tem formação como correspondente político e repórter investigativo. É também roteirista de uma dúzia de séries de TV e filmes que vão da aventura de "Mad Max 2: A Caçada Continua" e "Mad Max: Além da Cúpula do Trovão" ao drama de "Limite Vertical".
Lançado no Brasil no primeiro semestre deste ano, "Eu sou o Peregrino" é seu primeiro romance, um thriller ambicioso que faz bom uso de seus talentos, mas também esbarra em suas limitações.
Abordando o terrorismo biológico, a história segue os anos de formação e aposentadoria de um espião que trabalha para uma divisão secreta do governo americano —o Peregrino—, em paralelo com os passos desde a infância de um terrorista muçulmano —o Sarraceno.
É uma macronarrativa que se desdobra em várias missões ao redor do mundo, gerando o contexto em que se desenvolverá a trama principal: a busca do governo norte-americano pelo homem que ameaça atacar os Estados Unidos com um novo vírus de varíola geneticamente modificado.
MAIS QUE PRECIOSISMO
Hayes tem um talento ímpar como contador de histórias e sabe prender a atenção por quase 700 páginas. Descreve paisagens do Oriente Médio e discorre sobre procedimentos de investigação como se entendesse do assunto, mas entrega sua ignorância em alguns detalhes.
Em certa passagem, o espião protagonista assume seu desconhecimento em informática, o que parece ecoar uma incapacidade do próprio autor. Os métodos investigativos que envolvem arquivos de áudio, vídeo e telefonia são bastante precários e qualquer um com conhecimento pouco além do básico flagra a fragilidade.
Mais do que preciosismo, isso gera uma desconfiança geral sobre a verossimilhança da trama e a capacidade de condução do autor, que compromete o jogo.
Não ajuda muito o fato de grande parte do plano do Peregrino depender da sorte para funcionar, o que acaba por exigir muito boa vontade do leitor em comprar as soluções da história.
Mais grave do que isso é a total falta de alma no texto, que se apoia na trama mirabolante, mas não desenvolve os personagens.
Eu Sou o Peregrino Terry Hayes Comprar Por se tratar de uma narrativa de espionagem, seria desculpável chegar ao final do romance sem ter uma ideia clara da personalidade de seu herói, mas isso se estende a todos os personagens.
Além disso, as doses de xenofobia em relação ao Oriente Médio como um todo estão longe de serem sutis.
Relevando tudo isso e aceitando "Eu Sou o Peregrino" como um novelão descartável de espionagem, é uma leitura bastante divertida. Típico caso do "não é bom, mas é legal".
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