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    Febre pop pelo mundo, Frida Kahlo volta ao Brasil em mostra fotográfica

    DAIGO OLIVA
    DE SÃO PAULO

    24/08/2016 02h50 - Atualizado às 07h46 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    No Brasil, só há uma personalidade mexicana que gera tanta audiência quanto o Chaves: Frida Kahlo. Embora a artista de sobrancelhas grossas e cicatrizes transformadas em autorretratos seja um símbolo pop no mundo todo, aqui ela encontra alguns dos mais variados ecos de suas obras.

    Só nos últimos dois anos, o país viu Frida (1907-54) virar peça de teatro, exposição para crianças, nome de coletivo feminista, inspiração para festa de cumbia e a mostra mais visitada do Instituto Tomie Ohtake, com 600 mil pessoas.

    Agora, a artista que fundiu traços autobiográficos ao imaginário do México pós-revolução está de volta. Repete em São Paulo, no MIS e no Espaço Cultural Porto Seguro, uma mostra já montada em Curitiba, com fotos de uma coleção de memórias revelada mais de cinco décadas depois de sua morte.

    Esse baú havia permanecido fechado a pedido de Diego Rivera (1886-1957), marido de Frida, que determinou um prazo de 15 anos após sua morte para que o arquivo fosse aberto. Dolores Olmedo, mecenas do muralista, resolveu estender o prazo, e o arquivo só foi conhecido em 2007.

    No acervo, guardado num banheiro da célebre Casa Azul, onde Frida cresceu e morreu, há documentos, desenhos, cartas, presentes de outros artistas e imagens realizadas pelo pai da pintora, o fotógrafo Guillermo Kahlo.

    Para Pablo Ortiz Monasterio, curador da exposição, é comum dizer que Rivera foi a grande influência da artista. As memórias apresentadas na mostra revelam que os autorretratos do pai foram referência para a obra da filha.

    Durante a infância, a pintora costumava acompanhar o pai durante sessões de retratos de famílias, além de ajudá-lo retocando negativos.

    "Quando Frida passa um longo período na cama pelo acidente de bonde, Guillermo adapta um escritório para que ela possa pintar", lembra Monasterio. "E o que Frida pinta? Autorretratos."

    Uma das imagens mais emblemáticas da exposição é justamente um registro feito por Nickolas Muray, fotógrafo da "Vanity Fair" que viveu por anos um romance com a artista. Na imagem, Frida está pintando rodeada pelo aparato fabricado pelo pai.

    A família, aliás, é parte central da seleção de 241 fotos da exposição, feita a partir de 6.500 imagens do acervo. A mostra passeia pela infância da artista, com retratos de Frida feitos pelo pai, passagens com amigos e um retrato do casamento de seus pais.

    Já o núcleo sobra a paixão por Rivera se confunde com a revolução mexicana, que foi base para as alegorias dos comunistas militantes Frida e Rivera. Imagens relacionadas à revolta estão junto a retratos de líderes socialistas que o muralista colecionava, como Lênin, Stálin e Trotsky.

    A mostra, que já passou por Portugal, Polônia, Nova Zelândia e EUA, entre outros, no Brasil será pela primeira vez dividida em duas. No recém-inaugurado Espaço Cultural Porto Seguro serão exibidas imagens de nomes importantes da fotografia, como o americano Edward Weston, o francês Pierre Verger e a italiana Tina Modotti. Alguns mostram suas visões particulares, e por vezes idealizadas, do México, e outras obras são presentes dados a Frida.

    Registros feitos pela artista são raros. Segundo Monasterio, só quatro imagens feitas por Frida foram encontradas. "São fotos importantes porque ela usa a fotografia da mesma maneira que pinta", diz o curador. "Ela faz uma foto de um carrinho [de brinquedo] no momento do acidente, com a menina caída ao lado. É a biografia trágica e bonita de Frida outra vez."

    PARTIDA AO MEIO

    Haverá um serviço gratuito de van para transportar o público do MIS (no Jardim Europa) ao Espaço Porto Seguro (Campos Elíseos). As mostras são complementares, e o ingresso, comprado lá ou cá, dá acesso às duas.

    Questionado se a separação da exposição em dois lugares não atrapalharia o público, o diretor do MIS, André Sturm, afirmou: "Se prejudicasse o público, eu não faria isso".

    *

    FRIDA KAHLO - SUAS FOTOS E OLHARES SOBRE O MÉXICO
    QUANDO abertura no dia 3/9, às 10h; de ter. a sáb., das 10h às 19h; dom. e feriados, das 10h às 17h (MIS); até 20/11
    ONDE MIS, av. Europa, 158, tel. (11) 2117-4777; Espaço Cultural Porto Seguro, al. Barão de Piracicaba, 610, tel. (11) 3226-7361
    QUANTO R$ 6

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