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    Em filme da Coleção Folha, Pasolini mostra representação realista de Jesus

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    26/08/2016 02h09

    "Eu não vim para trazer a paz, eu vim para trazer a espada!". Não é exatamente a frase que as pessoas esperam ouvir da boca de Jesus Cristo, mas, como esperado, a representação do filho de Deus criada pelo cineasta italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975) não poderia deixar de ser perturbadora.

    "O Evangelho Segundo São Mateus", de 1964, é o filme do quinto volume da Coleção Folha Grandes Biografias no Cinema, que chega às bancas neste domingo (28). O livro, acompanhado de DVD, custa R$ 19,90 e traz material sobre a produção e o diretor.

    Reprodução
    Cineasta italiano Pier Paolo Pasolini
    O cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, diretor de 'O Evangelho Segundo São Mateus'

    Marxista, ateu, homossexual e iconoclasta, o cineasta, poeta e pensador Pasolini sentia-se ultrajado pelos rumos políticos, econômicos e culturais na Itália depois da Segunda Guerra. No começo dos anos 1960, seu foco era o questionamento constante, que motiva sua busca por uma versão mais "realista" da figura de Jesus.

    Seu Cristo é um homem duro, radical, irritadiço, que cativa seus seguidores mais pelo desejo furioso de mudanças na sociedade do que por atos de compaixão.

    Pasolini não cria um novo Jesus Cristo. Em sua proposta, na qual rebatia qualquer intenção de afrontar a religião, defendia uma espécie de retorno à essência do personagem, retirando o que chamava de "disfarces concebidos pela visão do cinema americano".

    O diretor sabia muito bem o quanto estava destruindo a figura normalmente associada ao Messias, por isso optou por não escalar um ator conhecido no papel.

    É um recurso habitual em parte de sua filmografia, que aparece em obras como "As Mil e Uma Noites" (1974): ele trabalhou com atores sem nenhuma experiência. Pasolini pegou para Cristo um jovem espanhol estudante de economia, Enrique Irazoqui.

    "O Evangelho Segundo São Mateus" foi o vencedor do prêmio especial do júri no Festival de Veneza e teve três surpreendentes indicações ao Oscar: direção de arte, figurino e trilha sonora.

    O filme pode ser uma introdução ao cinema intelectualizado e militante de Pasolini, que engloba de releituras de clássicos como "Édipo Rei" (1967) a provocações perturbadoras como "Teorema" (1968) e o indigesto "Salò ou 120 Dias de Sodoma" (1975).

    O cineasta morreu assassinado em 1975, supostamente por um garoto de programa, na periferia de Roma.

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