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    Crítica

    Road movie recupera doce-amargo das comédias italianas

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    01/09/2016 02h02

    É inevitável assistir a "Loucas de Alegria" sem que a memória nos assalte com lembranças de "Thelma & Louise", clássico pop feminista de vinte e tantos anos atrás.

    Como no filme de Ridley Scott, a trama dirigida pelo italiano Paolo Virzì segue duas mulheres que escapam da condição repressiva e durante um par de horas oferece o prazer de viver fora das normas.

    O habilidoso Virzì sabe dos riscos de fazer um filme que pode perder na comparação com um modelo tão icônico. Para evitar isso, incorpora outras inspirações que também dão a "Loucas de Alegria" uma leveza incomum em dramas sobre desordens mentais.

    Beatrice (Valeria Bruni Tedeschi) e Donatella (Micaela Ramazzotti) são duas internas de uma instituição psiquiátrica que aproveitam um cochilo do controle e partem em busca de algo perdido.

    Enquanto a mitômana Beatrice inventa uma origem nobre e sofisticada que a protege do distúrbio bipolar, a depressiva Donatella arrasta o trauma de uma tentativa de suicídio.

    Cada uma se alimenta da ilusão de refazer a vida recuperando o passado, o que em ambos os casos não dá certo, pois foi lá que elas começaram a fugir da realidade.

    Por sua vez, essa busca dá ao filme um motivo para explorar as possibilidades do road movie, ou seja, provocar situações que revelam como a "loucura" das personagens não se distingue tanto assim da nossa "normalidade".

    Esse gênero que muita gente pensa ser típico do cinema americano também permite a "Loucas de Alegria" recuperar aspectos da tradição cinematográfica italiana, como a tonalidade doce-amarga de suas grandes comédias. Aqui, a força da caricatura se equilibra com momentos de autenticidade, numa demonstração de boa dosagem que estrutura todo o filme.

    Em vez de estudo de caso psiquiátrico, Virzì explora a desordem mental para fazer observações que valem para a Itália como para todo o mundo, na forma de crônica sobre os efeitos do individualismo para quem vive na abundância ou na pindaíba.

    Sem perder de vista o horizonte social, "Loucas de Alegria" se interessa mais pelos afetos, expressando-os tanto no plano das emoções comuns como dos distúrbios.

    Para dar certo, o filme conta com a colaboração soberba das atrizes principais em papéis prontos para o excesso e nos quais Tedeschi e Ramazzotti, ainda bem, sabem chegar à beira do abismo e não se jogar.

    LOUCAS DE ALEGRIA (La Pazza Gioia)
    DIREÇÃO Paolo Virzì
    ELENCO Micaela Ramazzotti, Valeria Bruni Tedeschi, Anna Galiena
    PRODUÇÃO Itália, 2016, 14 anos
    QUANDO: estreia nesta quinta (1º)

    Edição impressa

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