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    Filme de Wim Wenders é recebido entre aplausos e bocejos em Veneza

    BRUNO GHETTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM VENEZA

    02/09/2016 02h13

    Foi entre aplausos comedidos e bocejos que Veneza recebeu "Les Beaux Jours d'Aranjuez" (os belos dias de Aranjuez), filme do alemão Wim Wenders, exibido na quinta (1º) na disputa pelo Leão de Ouro. Adaptado de uma peça de Peter Handke (que colaborou com o cineasta em "Asas do Desejo"), o longa foca basicamente uma cena: um homem e uma mulher conversando em um jardim.

    Divulgação
    Reda Kateb e Sophie Semin no filme The Beautiful Days of Aranjuez, de Wim Wenders ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Reda Kateb e Sophie Semin em 'Les Beaux Jours d'Aranjuez', de Wim Wenders

    Wenders cria uma espécie de Éden (há até uma maçã em cena) como cenário para o "bate papo". Em geral, o homem faz perguntas –muitas delas sobre experiências sexuais da mulher. Ela responde, mas sem detalhes eróticos; narra suas relações de modo abstrato, em falas literárias que transitam entre o descritivo e o filosófico. E o filme se prolonga sobre esse diálogo, sempre partindo de ideias promissoras sobre a diferença entre os sexos, mas que pouco são desenvolvidas.

    "Essa diferença [entre sexos] já causou guerras, mas também a coisa mais bela do mundo, que somos nós", disse Wenders, em entrevista à imprensa. "Gostei do texto por que mostra como um sexo vê o outro. E, a cada dia, em vez de respostas, temos mais perguntas sobre isso."

    O longa é em 3D e, a priori, é difícil pensar em um filme que necessitasse menos dessa tecnologia. "O 3D me faz levar o público para dentro da obra. Não poderia ter conseguido isso de outra forma", explicou o cineasta.

    Mas a tridimensionalidade tem outros efeitos, como ampliar a beleza estival das imagens e reforçar o caráter teatral do longa; embora a câmera fluida de Wenders atue no sentido oposto, libertando o material do formato para o qual o texto foi criado, o 3D resgata sua teatralidade –experiência semelhante à de ver atores de carne e osso.

    Primeiro filme em francês de Wenders, o longa tem o que o cinema da França traz de melhor –inteligência e ousadia–, mas também de pior: a afetação e a tendência à verborragia. Às vezes lembra "Le Camion", de Marguerite Duras, e "O Ano Passado em Marienbad", de Alain Resnais, mas quase sempre sem ir aonde prometem suas pretensões.

    Mas Wenders não estava só: o outro filme de quinta era ainda mais pretensioso. "A Chegada", do canadense Denis Villeneuve, é uma ficção científica sobre aliens que invadem a Terra sem deixar claro o que querem. Uma linguista (Amy Adams) é chamada às pressas para entender o que "dizem" os ETs. Mas interesses regionais de cada país tornam o processo de comunicação ainda mais complicado.

    O filme parece ser uma defesa da união entre os povos, mas a visão estereotipada dos chineses enquanto "inimigos" não ajuda nesse sentido. E o roteiro vai se tornando progressivamente complexo demais, envolvendo noções de linguística, misticismo e distopia de uma maneira um tanto desajeitada. A reta final é tão confusa que, ao fim da sessão, houve vaias –as primeiras de Veneza neste ano.

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