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    Público se rende a comédia ácida argentina no Festival de Veneza

    BRUNO GHETTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    05/09/2016 02h17

    Foram dois cineastas argentinos os responsáveis pelos aplausos mais calorosos até o momento na competição do Festival de Veneza.

    Gastón Duprat e Mariano Cohn (de "O Homem ao Lado") levaram ao Lido no domingo (4) "El Ciudadano Ilustre" (o cidadão ilustre), comédia sobre um escritor famoso que, após décadas, resolve voltar à cidadezinha onde nasceu. Mas o retorno ganha contornos absurdos e de pesadelo quando o abismo cultural entre ele e seus conterrâneos se torna evidente.

    Divulgação
    Os atores Dady Brieva e Oscar Martínez em cena do longa de Gastón Duprat e Mariano Cohn
    Os atores Dady Brieva e Oscar Martínez em cena do longa de Gastón Duprat e Mariano Cohn

    Daniel Mantovani é um escritor argentino que já ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. É um sujeito recluso –o clichê do intelectual popstar de vida vazia, entediado em sua mansão, em Barcelona. Após décadas, decide voltar à Argentina quando o convidam para um evento local. Parte de forma anônima para reencontrar um lugar que ele jamais suportou, mas que ainda hoje lhe serve de inspiração criativa.

    Em meio a adulações e desfile em carro de bombeiros, a recepção dos orgulhosos conterrâneos de Mantovani ao ídolo da cidade revela um colossal contraste de valores. O escritor reencontra amigos de infância, conhece fãs, revê um antigo amor e recebe as homenagens mais cafonas. Esses encontros resultam em situações tragicômicas.

    "A premissa de uma celebridade que retorna ao seu lugar de origem depois de tantos anos permite acrescentar a ela várias outras ideias. Como o confronto entre a vida no interior e o cosmopolitismo. Ou a criação de um artista e seu lugar na sociedade. Ou o chauvinismo interiorano", disse Duprat, em entrevista à imprensa. "Mas o abraço a um ídolo que não corresponde às expectativas que se tem sobre ele não é algo só argentino; é um patrimônio de todos [os povos]."

    O filme instiga, faz refletir. Os diretores conduzem com talento essa jornada quase surreal do escritor, mas muitas vezes exageram na crítica à caipirice dos fãs de Mantovani; há um desagradável ranço de superioridade na visão crítica dos cineastas ao estilo de vida interiorano.

    OZON

    O francês François Ozon também conseguiu uma boa (porém não tão inflamada) recepção com seu novo filme, "Frantz". Quase todo em preto e branco (só com cenas estratégicas em cores), a trama se passa após o fim da Primeira Guerra, na Alemanha. Um ex-soldado francês vai visitar o túmulo de um amigo alemão, morto no conflito. Ele conhece sua família e inicia uma relação muito especial com a viúva do rapaz.

    Ozon mostra que continua dominando a arte de narrar uma história. O filme é elegante, sutil, mas não empolga como outros recentes do diretor. Mesmo assim, tem chances de levar algum prêmio.

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