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    Terrence Malick decepciona com jornada filosófica 'Voyage of Time'

    BRUNO GHETTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM VENEZA

    08/09/2016 02h05

    Divulgação
    Cena de 'Voyage of Time: Life's Journey', de Terrence Malick (Divulgação) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Cena de "Voyage of Time: Life's Journey"

    "Voyage of Time: Life's Journey", documentário de Terrence Malick exibido no Festival de Veneza na terça (6), em competição, foi recebido com aplausos. Mas as palmas pareciam pela metade: davam a impressão de contemplar só parte do filme (certamente a visual), e não a obra como um todo.

    Discorrendo sobre a origem (e o destino) da vida no universo, o filme é um imponente apanhado de imagens. Assim como fez em um trecho de "Árvore da Vida" (2011), o americano se volta ao cosmos, mostrando cenas que remetem ao surgimento dos planetas e de formas vivas, das mais primitivas ao ser humano.

    Há sequências filmadas em locações exóticas e outras geradas por computação gráfica. As que sugerem a formação planetária foram feitas com vistosos materiais em plasma. Uma voz em off (de Cate Blanchett) tece observações sobre a vida. O filme terá uma versão mais curta que irá para salas Imax, nas quais o visual deverá ser ressaltado.

    Mas Malick deixa a desejar bem onde se pensava que ele faria a diferença: não há complexidade na jornada filosófica que ele propõe. Ou até há, mas é o tipo de existencialismo de dia a dia que todos nós exercemos no cotidiano, do estilo: "Quem sou? De onde vim? Para onde vou?". E não há a força mística habitual dos filmes de Malick; perto deles, "Voyage of Time" é metafísica de enciclopédia.

    O projeto nasceu há anos, mas Malick o atrasou o quanto pôde —produtores resmungaram que ele priorizou projetos de ficção.

    Mais interessante foi outro documentário, fora da competição: "Austerlitz", de Sergei Loznitsa. Ali, o bielorrusso prova o que parecia impossível: ainda há ângulos novos para abordar o Holocausto no cinema. A mágica se dá ao fazer isso indiretamente: o diretor mostra turistas em visita a um campo de concentração, praticando o chamado "dark tourism" (turismo negro). Ele basicamente liga a câmera e a deixa registrando os viajantes que passam pelo local.

    Os comportamentos são diversos: muitos parecem apressados, como se o passeio fosse algo protocolar. Outros não disfarçam o quão deprimente é estar ali. E, é claro, há aqueles que sorriem e fazem poses para fotos, no mesmo cenário em que pessoas passaram fome e foram exterminadas décadas antes.

    Não há didatismo: há apenas as explicações de guias que acidentalmente passam diante do foco. E as cenas são longas, com a câmera fixa, contando só com a movimentação dos turistas. Seus rostos, às vezes, falam mais que qualquer narração. O tédio, de vez em quando, é inevitável. Mas o filme é fascinante em tantos outros níveis que isso nunca é um problema.

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