Um jovem sem-terra e a filha de um pequeno comerciante se apaixonam no oeste de Santa Catarina. Os pais dela detestam o pessoal do assentamento; defendem a pequena propriedade familiar, a meritocracia.
Ele vem de um grupo de luta por conquista de terra, que prega o coletivismo. O embate desses mundos e suas contradições está em "Lua em Sagitário", de Marcia Paraiso, um Romeu e Julieta catarina.
Ana (Manuela Campagna) quer independência e racionalidade; Murilo (Fagundes Emanuel) curte astrologia e faz o gênero militante tranquilo. Ambos adoram rock e se encontram numa LAN house.
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O casal Ana (Manuela Campagna) e Murilo (Fagundes Emanuel) |
Querem dar uma escapada da rotina sufocante da fronteira. Partem numa viagem de moto rumo à capital, Florianópolis. No trajeto, o romance explode; surgem contradições, medos, raiva. Enfrentam os conhecidos preconceitos, agora em nova roupagem e com mais força.
Como em "Terra Cabocla" (2015), Paraiso vai buscar histórias do Brasil profundo. Naquele filme, a diretora tratou da guerra do Contestado (1912-16), conflito sangrento que há cem anos opôs caboclos e uma madeireira multinacional.
Agora, em "Lua em Sagitário", a mesma tensão está nas entrelinhas. Nessa ficção com atmosfera juvenil e muito rock, os confrontos são levados de forma mais suave e romântica.
De certa forma, os personagens da ficção são descendentes do confronto camponês relatado no documentário. Quase na mesma geografia, os caboclos, filhos de escravos, índios, peões, ressurgem no assentamento dos sem-terra –agora pequenos proprietários rurais mobilizados pela política– e no acampamento do MST, com barracas de lona, cantorias e escolas improvisadas.
O enfrentamento é com os pequenos senhores de classe média que se sentem superiores e que carregam o processo de "europeização" da região, cevando o ódio aos pobres.
Elke Maravilha faz uma ponta (seu último trabalho inédito) com o músico Serguei: só podia ser um casal de bichos-grilos no meio da floresta, numa casa saída de conto de fadas.
Audacioso pela temática, "Lua em Sagitário" faz leitura leve da luta de classes.