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    Peça 'A Reunificação das Duas Coreias' discute dramas e humores das relações

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    16/09/2016 02h10

    De certa maneira, "A Reunificação das Duas Coreias" questiona o mito do amor platônico e o idealismo que criamos sobre as relações amorosas, diz à Folha Joël Pommerat. "Podemos nos perguntar se o amor existe de verdade ou se é um ideal no qual precisamos crer para afirmar nosso sentimento de existência."

    É nesse emaranhado de sentimentos das relações humanas que trafega o espetáculo do diretor e dramaturgo francês. Criado em 2013 com sua companhia, a Louis Brouillard, o trabalho ganhou sua primeira montagem brasileira, que estreia nesta sexta-feira (16) em São Paulo após temporada no Rio.

    Hoje um dos principais nomes da dramaturgia francesa, Pommerat despontou no Brasil há quatro anos, quando teve seu primeiro texto adaptado a um palco nacional, "Esta Criança", montagem da Cia. Brasileira de Teatro com Renata Sorrah no elenco.

    Em março passado, o francês foi destaque da MITsp - Mostra Internacional de Teatro de São Paulo. Encenou com o seu grupo as peças "Ça Ira (1) - Fin de Louis", uma releitura da Revolução Francesa, e "Cinderela", parte de uma série infantojuvenil que inclui ainda "Pinóquio" e "Chapeuzinho Vermelho".

    Um estudioso das relações familiares, de poder ou de trabalho, o dramaturgo ficou conhecido por trabalhos de viés político. Em "A Reunificação das Duas Coreias", faz um chiste logo no título. Não se trata de política, mas de um mosaico de casos de amor reunidos em 18 cenas curtas e narrados por 46 personagens.

    FRONTEIRAS

    O nome da peça vem da fala de um personagem que explica à mulher, já sem memória, como os dois se apaixonaram: "Nós éramos como duas partes que haviam se perdido e se encontraram. Foi maravilhoso. Foi como se a Coreia do Sul e a Coreia do Norte abrissem suas fronteiras e se reunificassem e que as pessoas que tinham sido impedidas de se ver durante anos se reencontrassem".

    Para criar o texto, Pommerat conta ter se inspirado em "Cenas de um Casamento" (1973), de Ingmar Bergman, e em obras de Arthur Schnitzler e Tchékhov. As cenas –interpretadas aqui por sete atores, entre eles Gustavo Machado, Letícia Isnard e Marcelo Valle– retratam encontros, divórcios, casamentos, conflitos entre pais e filhos.

    "Elas investigam por que a gente busca esse amor e esse desamor que podem provocar as reações mais malucas", diz João Fonseca, que dirige a montagem brasileira. "No fundo a gente está sempre procurando a reunificação das duas Coreias."

    Mas o retrato que Pommerat faz do amor muitas vezes é ligado à perda, à separação e à violência. "Não é tudo pessimista. Mas nada é simples", comenta o francês. "Gosto de representar a complexidade das relações humanas."

    "Ele consegue abordar fatos muito espinhosos. E, por mais que as cenas se alternem entre tons absurdos, cômicos ou dramáticos, a gente sempre reconhece aquelas situações", afirma Fonseca.

    Segundo o diretor, as reações do público durante a temporada no Rio eram muito diversas. "Tinha dias em que havia mais silêncio e emoção, noutros os espectadores riam e viam a peça com leveza. São cenas muito abertas e que dependem do seu estado de espírito."

    PENUMBRA

    Fonseca também replica a iluminação de Pommerat. Muito presente em cena, a luz do francês se incorpora à cenografia. Cria focos em forma de auréola, penumbras, contornos, aparições e desaparecimentos. "Gosto de mostrar sem revelar tudo", explica ele.

    Mas há uma diferença cenográfica. Enquanto a encenação francesa era feita num palco em forma de corredor, com a plateia dividida em arquibancadas laterais, aqui a montagem se dá num palco convencional e diminuto.

    "Não temos muitas pirotecnias cenográficas", diz Fonseca. "São só quatro cadeiras e algumas estantes. É um cenário muito simples, que procura dar dinâmica ao espaço."

    A REUNIFICAÇÃO DAS DUAS COREIAS
    QUANDO sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h; até 23/10
    ONDE teatro MorumbiShopping, av. Roque Petroni Júnior, 1.089, tel. (11) 5183-2800
    QUANTO R$ 50 (sex. e dom.) e R$ 70 (sáb.)
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos

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    Aos 53, autor tem 30 peças

    Nascido em 1963, em Roanne, sudeste da França, Joël Pommerat começou a carreira como ator, aos 19, mas abandonou a atuação quatro anos depois para se dedicar à direção e à dramaturgia. Está há 25 anos no grupo parisiense Louis Brouillard, do qual é diretor artístico.

    David Balicki
    Joel POMMERAT, Paris, Théâtre de l'Odéon, 3 juillet 2013. ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O dramaturgo e diretor francês Joël Pommerat

    É hoje um dos principais nomes da dramaturgia francesa, tendo no currículo três dezenas de peças que tratam sobre as relações de família, de trabalho e de poder. Venceu em 2011 o Prêmio Molière de melhor autor em língua estrangeira e é, desde 2007, diretor-residente do Théâtre des Bouffes du Nord, de Peter Brook.

    Entre os seus textos, destacam-se "Esta Criança" (2006), "Cercles/Fictions" (2010), "Ma Chambre Froide" (2011), "A Reunificação das Duas Coreias (2013) e "Ça Ira" (2015). Para o próximo ano, o autor prepara "Le Couloir" (o corredor).

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