• Ilustrada

    Thursday, 02-May-2024 14:37:09 -03

    CRÍTICA

    'Supermax' promete, mas vícios de TV atrapalham

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    16/09/2016 02h00

    É a primeira grande aposta da Globo em ficção para internet, para a ferramenta de vídeo por demanda lançada em novembro e que vinha recebendo atenção ainda subalterna na produção.

    Como visa também a transmissão em rede, porém, o formato é mesclado e acaba por flagrar a inferioridade –a começar da atuação– do modelo de dramaturgia para TV aberta, no Brasil.

    As estrelas de telenovela escaladas, Mariana Ximenes, Cléo Pires e Erom Cordeiro, não demonstram, ao menos no primeiro episódio, preparo para a intensidade buscada nos personagens pelos roteiristas Fernando Bonassi e Marçal Aquino e pelo diretor José Alvarenga Jr.

    Suas atuações são de folhetim, caricaturais, viciadas, o que se torna mais pronunciado pela contraposição aos demais, menos conhecidos e marcados, como Rui Ricardo Diaz, Fabiana Gugli ou Mário César Camargo.

    Neste início, a presença insistente de Pedro Bial como apresentador do fictício "reality show" retratado na série vai na mesma direção. Realça a opção por manter os pés em duas canoas, TV aberta e vídeo por demanda –aliás, com modelos de sustentação inteiramente diversos, publicidade e assinatura.

    Bial não é ator e, com texto memorizado, entrega a falta de espontaneidade, o amadorismo. Ele e os intérpretes marcadamente de novela, bem como os quadros tão reconhecíveis de "reality show", estão ali para suavizar a passagem de um meio a outro. Tentar transferir parte do alcance de massa.

    É só quando a série começa de fato –acentuando o contraste em todas as frentes– que se percebe a qualidade potencial de "Supermax". Diretor e roteiristas atiram para todo lado, adaptam o que já funcionou em outras partes, a exemplo do que fez "Stranger Things", a série mais recente do Netflix.

    Na trama, nos personagens, nos cenários e figurinos, na abertura, em cenas específicas, na trilha, a série brasileira ecoa séries americanas como "Lost", "Orange Is the New Black" e "True Detective", franquias de cinema como "Jogos Vorazes" e "Maze Runner" e cenas pontuais de inúmeros filmes.

    Não é original, inovador, mas não é mesmo o que importa, como mostrou "Stranger Things". O parâmetro para definir o sucesso de um vídeo por demanda é o assinante do serviço, sua disposição para ver e rever aquilo.

    "Supermax" é aposta de risco porque, diferentemente das séries de maior êxito no Netflix, não parece ter sido projetada a partir da demanda. Reproduz a fórmula para um público em princípio muito diverso, o brasileiro.

    Também é arriscada a decisão de mirar dois alvos, pela ameaça de desagradar a ambos. Nada garante que o público de novelas. ou mesmo de mininovelas como "Justiça", vá abraçar o suspense de "Supermax". E é provável que o público novo que se está buscando, de séries como "True Detective", torça o nariz para a canastrice de Ximenes e Bial.

    Mais importante: em tecnologia, que é o que faz a diferença de serviços como Netflix e o concorrente HBO Now, prestes a estrear no Brasil, o Globo Play avança sem convicção. Ainda não chegou aos consoles de videogame, por exemplo.

    NA INTERNET E NA TV
    Supermax
    QUANDO a partir desta sexta (16), 11 episódios no Globo Play. Na terça (20), às 23h30, a TV Globo transmite o primeiro episódio
    AVALIAÇÃO bom

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024