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    Autor de mais de 120 edifícios em SP, João Kon tem obra celebrada em livro

    RAUL JUSTE LORES
    DE SÃO PAULO

    17/09/2016 02h13

    Fabio Braga/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 09-09-2016: XXXXXXX. O arquiteto João Kon, 83, que lanca livro com suas obras. (Foto: Fabio Braga/Folhapress, ILUSTRADA)***EXCLUSIVO***.
    O arquiteto João Kon, 83, que lança livro com suas obras

    Ainda estudante de arquitetura no Mackenzie, João Kon projetou aos 21 anos de idade seu primeiro prédio, na rua Peixoto Gomide, em 1954. Com apenas seis andares, o Primavera foi um dos primeiros edifícios de apartamentos no Jardim Paulista.

    O irmão, o engenheiro Samuel, foi o responsável pela construção. O pai, o imigrante polonês Godel, encarregou-se de achar investidores e compradores na comunidade judaica para colocar o edifício em pé.

    O Primavera foi concebido e projetado no sobrado da família no Bom Retiro, que ainda abrigava uma confecção nos fundos e uma loja de roupas masculinas no térreo. O dinheiro da atividade têxtil preparou o terreno para a investida imobiliária.

    Dessa forma artesanal, mas com controle do projeto, da construção e até das vendas, começou a carreira de um dos mais prolíficos arquitetos de São Paulo.

    Os traços de Kon estão nos Jardins, Higienópolis, Perdizes, Santa Cecília, Moema e Morumbi. São ao menos 121 projetos construídos –este é o número documentado– em quase 50 anos de carreira, residenciais na maioria.

    O recém-lançado volume "João Kon Arquiteto" mostra essa obra, pouco conhecida inclusive entre seus colegas de profissão. Boa parte das fotos é de seu filho Nelson Kon, um dos mais premiados fotógrafos de arquitetura em atividade no país.

    Apesar de muito bem-sucedido profissionalmente –nos anos 1970, sua construtora e incorporadora, a Diâmetro, chegou a ter 300 funcionários– João Kon permaneceu quase ignorado por seus pares durante décadas.

    "Diziam que o que eu fazia era subarquitetura. Edifícios comerciais eram arquitetura menor. Nunca fiz obras para o governo", diz à Folha, em tom que revela certa mágoa, o arquiteto, hoje com 83 anos.

    Nenhum de seus edifícios foi resenhado pelas principais publicações de arquitetura no país. Com o dogmatismo exacerbado da arquitetura moderna, com etiquetas de certo e errado e suas panelinhas, Kon ficou à margem.

    "A turma do Partidão [PCB] era dominante. Eu era de esquerda, meu pai era de esquerda, mas quando vi o que Stálin tinha feito, caí fora", diz Kon, relembrando que 10% do que ganharam com o Primavera foi doado para terminar as obras da Casa do Povo, entidade da esquerda judaica no Bom Retiro.

    Ele explicita um dos paradoxos da classe: o desprezo ao mercado acompanhado do ressentimento de não ser chamado a integrá-lo.

    Kon conseguiu fazer edifícios de boa qualidade e competitivos, concorrendo em décadas de mínimo denominador comum no mercado.

    "Nós comprávamos um terreno em grupo e procurávamos sócios para construir um prédio a preço de custo. Com o crédito nos anos do BNH [Banco Nacional da Habitação], aumentamos a produção, mas sempre fomos muito cautelosos com o dinheiro, com os novos lançamentos. Vi muita gente ir à falência pelo caminho", lembra.

    CONGELAMENTO

    Nos anos 70, quando o mercado se industrializou de vez, ele passou a estudar materiais e sistemas mais baratos para continuar com preços competitivos.

    Seus melhores amigos eram artistas. Alfredo Volpi fez um painel na fachada da casa do arquiteto, na rua Honduras, Arcangelo Ianelli fez um painel para a sede da Diâmetro, na avenida Brigadeiro Faria Lima, e Gershon Knispel fez diversos painéis para as entradas de seus edifícios residenciais, como era comum nos anos 1950.

    Em 1986, o congelamento de preços e a tabela de conversão de valores, parte do longevo laboratório econômico brasileiro, inviabilizaram seu negócio de imóveis a prestações, e a Diâmetro fechou as portas.

    Arquiteto
    João Kon
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    Comprar

    Ainda faria projetos para terceiros até o início dos anos 2000, mas já abrindo mão do controle que teve por 32 anos. Cercado de obras de arte, acompanha a produção atual pelas fotos do filho Nelson.

    JOÃO KON - ARQUITETO
    AUTOR Abilio Guerra, Luis Espallargas Gimenez e Fernando Serapião (org.)
    EDITORA Romano Guerra
    QUANTO R$ 90 (320 págs.)

    Edição impressa

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