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    CRÍTICA

    Talento de diretora de 'Mate-me Por Favor' se destaca do óbvio

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    19/09/2016 02h25

    Já no título, "Mate-me Por Favor" anuncia-se um filme estranho. Um prólogo mostra uma garota deslocada numa festa. Sua morte, num lugar em que ela caminha perdida, reitera o estranhamento com uma mistura de brutalidade verídica e gritos falsos.

    O primeiro longa de Anita Rocha da Silveira amplia o foco que a diretora construiu em três curtas. Neles, a banalidade do cotidiano escolar juvenil aparecia distorcido por situações insólitas, inspiradas no cinema de horror.

    Em "Mate-me Por Favor", ela explora o erotismo subjacente ao gênero e exacerba sanguinolência e violência como manifestações fantasmagóricas da sexualidade. As histórias confundem calafrios de temor com os de tesão.

    Divulgação
    CENA DO FILME Mate-me, por favor [Mate-me, por favor, Brasil, 2014], de Anita Rocha da Silveira (Imovision). Genero: suspense. Elenco: Valentina Herszage, Dora Freind, Julia Roliz ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    A atriz Valentina Herszage em cena de 'Mate-me Por Favor', longa de Anita Rocha da Silveira

    Silveira agrega observações sociais ao simbolismo psíquico dos curtas, em referência a cineastas como George Romero e Wes Craven, que trataram o medo como metáfora de questões concretas.

    Não é acidental que as personagens vivam em condomínios na Barra da Tijuca, que simulam conforto e segurança para a classe média carioca. E passem boa parte do tempo no espaço protegido da escola.

    A fotografia, esmaecida, também expressa uma visão do Rio avessa à de cidade maravilhosa e calorosa.

    Silveira, porém, evita se apoiar no discurso social. Prefere a ironia, num distanciamento que impõe ao filme uma frieza que deve incomodar o público tradicional dos filmes de terror adolescentes.

    A vocação reflexiva do longa também implica a tentação, comum entre estreantes, de abusar do exibicionismo formal. Esses pecadilhos, contudo, não impedem de saborear o talento da realizadora para o cinema, na contramão do óbvio.

    MATE-ME POR FAVOR
    DIREÇÃO Anita Rocha da Silveira
    PRODUÇÃO Brasil/Argentina, 2015, 14 anos
    ELENCO valentina herszage, dora freind e mariana oliveira

    Edição impressa

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