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    Crítica

    Filme gaúcho tem belas imagens e ritmo lento

    ELEONORA DE LUCENA
    DE SÃO PAULO

    20/09/2016 02h00

    Divulgação
    Chimangos em batalha encenada no longa

    Crise econômica, eleições contestadas, revoltas militares. Assim estava o Rio Grande do Sul em 1923. Endividado, o setor pecuário buscava socorro. O resultado das urnas desgostou parte da elite. Dividida, ela foi às armas.

    A guerra civil colocou chimangos e maragatos novamente em lados opostos. Usando lenços brancos, os chimangos eram defensores do governador Borges de Medeiros, positivista e republicano, herdeiro político de Júlio de Castilhos.

    Maragatos portavam lenços vermelhos e seguiam Joaquim Francisco de Assis Brasil, pecuarista e diplomata que atuou com o barão de Rio Branco. Em certa medida, o conflito reeditava a Revolução de 1893, que ficou conhecida pelas degolas em massa. Erico Verissimo tratou do embate em "O Tempo e o Vento".

    O tumultuado e sangrento ano de 1923 é o contexto de "Os Senhores da Guerra", filme dirigido por Tabajara Ruas com base no livro de José Antônio Severo. No enredo, dois irmãos se enfrentam no campo de batalha.

    Carlos (André Arteche) é maragato; adora música e teme a influência anarquista que começa a se alastrar nas fábricas distantes da fazenda da família Bozano. Julio (Rafael Cardoso) é chimango; político jovem, lidera as forças legalistas de Borges de Medeiros na região.

    RECONSTITUIÇÃO

    O diretor Tabajara Ruas, escritor e cineasta, é um estudioso dessa e de outras guerras gaúchas. Seu livro "Os Varões Assinalados" (1985) é referência sobre a história da Revolução Farroupilha. A mesma temática ele explorou nas telas com o premiado "Netto Perde Sua Alma" (2001), sua estreia na direção.

    Com toda essa experiência acumulada, a direção é esmerada nos detalhes de reconstituição histórica. Há belas imagens de batalhas de cavalaria, emboscadas, correrias. Bege, branco, ocre, vermelho e preto pintam a tela com serenidade, sem exagero nas cenas sangrentas.

    Tanta ponderação parece afetar o ritmo da história. Desde o início há certa lentidão. Depois, quando a divisão familiar se instala, os cortes de um grupo para outro seguem uma rotina previsível. Chimangos e maragatos vão dividindo religiosamente a tela, mas não se sabe muito bem o que os separa de forma tão radical. Até Luís Carlos Prestes surge entre os dois.

    Há um esforço de didatismo, mas a avalanche de informações sobre batalhas, mapas e nomes deixa meio perdido quem não conhece a fundo a temática.

    A narração e as atuações conferem certo ritmo teatral ao filme, que recebeu prêmios no Festival de Gramado. O conflito ganha ares fidalgos. O resultado não chega a empolgar, mas faz uma viagem no tempo esquecido dessa guerra.

    Depois dela, a reeleição foi derrubada, e Getúlio Vargas chegou ao poder no Rio Grande do Sul. Mas já era outra a revolução. Naquele tempo, os oligarcas estavam ficando para trás.

    OS SENHORES DA GUERRA
    DIREÇÃO Tabajara Ruas
    ELENCO Rafael Cardoso, André Arteche, Leonardo Machado
    PRODUÇÃO Brasil, 2016, 14 anos
    QUANDO em cartaz

    Edição impressa

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