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    Primeiro violonista pop do país tem centenário pouco recordado

    ALESSANDRO SOARES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    22/09/2016 02h15

    Num pequeno acidente no ventilador, Dilermando Reis (1916-1977) arrancou uma das unhas e teve de suspender as atividades por 30 dias. Preocupados com a situação, um grupo de amigos presenteou o violonista colocando suas mãos no seguro, evitando que ele tivesse prejuízo profissional com imprevistos assim.

    Esse tipo de apólice valia uma fortuna em 1958; entre os doadores que pagaram a de Dilermando estava Márcia, filha do presidente Juscelino Kubitschek. O episódio ajuda a dimensionar a popularidade do artista.

    Os ecos da grandiosa fama deste que foi o primeiro violonista pop do país permanecem no seu centenário, celebrado nesta quinta (22).

    Luis Alberto/Agência O Globo
    Rio de Janeiro (RJ) - 22/11/1972 - Dilermando Reis (músico) - Foto Luis Alberto / Agência O Globo - Negativo: 97715 ORG XMIT: AFP ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Dilermando Reis se apresenta para jornalistas no Rio, em 1972

    Dilermando atuou no rádio por cerca de 30 anos. Na Rádio Clube do Brasil, formou uma das primeiras orquestras de violões que se tem notícia; pela Rádio Nacional manteve o programa diário "Sua Majestade, o Violão".

    Autor de valsas e choros, ele é superlativo também em discos, inaugurando em 1941 a série de 78 RPM. Lançou dezenas de LPs entre 1956 e 1975, com mais de 250 fonogramas, dos quais mais de 120 são composições suas.

    Só o LP "Abismo de Rosas", de 1961, vendeu mais de 1 milhão de cópias, sendo um dos discos instrumentais de maior sucesso no país. É um raro caso de disco de violão que nunca saiu de catálogo e foi editado em CD.

    Para alguns estudiosos, a tradição do violão brasileiro tem como tripé as bases rítmicas de João Pernambuco (1883-1947), os encadeamentos harmônicos de Garoto (1915-1955) e as linhas melódicas de Dilermando.

    Não por acaso, violonistas brasileiros de variadas gerações e estilos já dedicaram temas a Dilermando, que vão de "Um Abraço no DR" (André Geraissati) e "Um Amor de Valsa" (Paulo Bellinati).

    Dilermando também difundiu mais que ninguém a obra de pioneiros como o próprio João Pernambuco (autor de "Sons de Corrilhões" e "Interrogando"),de tal forma que parte do público pensava ser ele o autor das músicas.

    As composições que eram suas de fato sempre circularam em partituras, mas começaram a ser difundidas também internacionalmente a partir de 1990, quando Ivan Paschoito publicou dois álbuns pela editora americana Guitar Solo Publication.

    HOMENAGENS

    Apesar do estilo tradicionalista, que contrasta com a de seu contemporâneo Garoto, pai do violão moderno no país, Dilermando tem se consolidado no cânone da música brasileira.

    Mas seu centenário tem gerado menos homenagens do que se esperaria.

    Em sua natal Guaratinguetá (SP), acontece a 20ª edição do Festival Dilermando Rei. Aberto no domingo, com a pitoresca seresta de músicos locais em frente ao túmulo do violonista, o evento prossegue até sábado (24), com show de Marco Pereira.

    O maior tributo até agora, aliás, é o excelente CD "Dois Destinos: Marco Pereira Toca Dilermando Reis", com leituras bem contemporâneas de violão e banda, e direito a belos improvisos e citações que vão de "Night In Tunisia" a "Segure o Tchan", num virtuosismo contagiante que não descaracteriza a obra.

    Até o final deste ano, o violonista e professor da Universidade de Brasília Alessandro Borges, lançará um álbum de 30 partituras inéditas.

    Pereira defende que a tradição não seja entrave. "Alguns violonistas clássicos tocam Dilermando presos a partituras. Assim como outros compositores populares brasileiros, ele deve ser relido."

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