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    Crítica

    Personagens fictícios imitam vidas de Huppert e Depardieu

    RICARDO CALIL
    CRÍTICO DA FOLHA

    24/09/2016 02h22

    A proposta do diretor francês Guillaume Nicloux em "O Vale do Amor" é de uma honestidade que beira a desfaçatez: vou fazer um filme de atores e ponto final.

    Nada de linguagem rebuscada. Melhor ficar com o arroz com feijão: plano e contraplano. Nada de explorar o magnífico cenário do Vale da Morte, na Califórnia. Basta apontar a câmera para o rosto e o corpo dos atores.

    Nada de história complicada. Vou criar um fiapo de trama brincando com alguns paralelos entre os personagens e as personas reais dos atores. Vamos ver se cola.

    Bem, colou. E só colou porque diante da câmera estavam Isabelle Huppert e Gérard Depardieu. Eles são um ex-casal de atores franceses que se reencontram no Vale da Morte. Foram até ali levados por cartas de suicídio de seu filho, que não viam há muitos anos.

    Nas cartas, o rapaz escreve que reapareceria para os dois se eles seguissem um programa de passeios de uma semana a pontos turísticos da região.

    O filme, então, acompanha o ex-casal no hotel em que se hospedaram e em suas visitas ao Vale da Morte.

    É antes um desencontro do que um reencontro: eles conversam sobre a culpa de terem renegado o filho, sobre a crença e a descrença em sua reaparição, sobre os problemas do passado, sobre os problemas ainda maiores do presente.

    A estratégia de Nicloux é colar os personagens fictícios à realidade: Huppert e Depardieu também estão se reencontrando na tela, 36 anos depois de terem feito juntos "Loulou", de Maurice Pialat.

    Como seu personagem em "O Vale da Morte", Depardieu perdeu um filho com quem não falava mais. Sua obesidade vira assunto do filme –e é explorada de forma quase fetichista pelo diretor nas muitas cenas em que o ator aparece suando sem camisa.

    Há algo de oportunista nesses paralelos entre personagens e atores. Mas, se os intérpretes toparam a brincadeira, o público não deve se sentir culpado de embarcar.

    Ao final, fica a sensação de que o filme oferece não uma construção cinematográfica articulada, e sim oportunidade de passar uma hora e meia com Huppert e Depardieu –o que, convenhamos, não é jogar tempo fora.

    O VALE DO AMOR (THE VALLEY OF LOVE)
    DIREÇÃO Guillaume Nicloux
    ELENCO Isabelle Huppert, Gérard Depardieu e Dan Warner
    PRODUÇÃO França, 2016, 14 anos
    QUANDO: em cartaz

    Edição impressa

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