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    Grupo de marchands acusa galeria de expor obras falsas na feira ArtRio

    SILAS MARTÍ
    ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    30/09/2016 02h23

    Um grupo de galeristas da ArtRio e especialistas do mercado de arte denunciaram a Graphos, uma das participantes do evento, à direção da feira, alegando que a casa tinha obras falsas em seu estande.

    Intenso, o brilho das obras de Raymundo Colares chamou a atenção de marchands e críticos. Eles diziam que, de tão lustrosas, elas pareciam pintadas há dias, e não na década de 1960.

    Também despertou suspeita um "Objeto Ativo" de Willys de Castro. Obra das mais cobiçadas de suas séries, é uma ripa de madeira com um padrão geométrico. Em breve alvo de uma retrospectiva em Londres, o artista se tornou um dos nomes mais fortes no mercado latino-americano nos últimos anos.

    Sem dar total certeza, por não ter encontrado a documentação da obra até a conclusão desta edição, a equipe da galeria Raquel Arnaud, que já representou Willys de Castro, disse desconhecer as suspeitas levantadas na feira e que Walter de Castro, irmão do artista, e Tuneu, que foi assistente dele, haviam considerado a peça autêntica.

    "Três pessoas que tiveram contato muito intenso com o Willys reconheceram inúmeros detalhes que dão autenticidade", disse Jeane Gonçalves, da galeria paulistana. "A obra é verdadeira, mas pedimos mais um tempo para elaborar o documento. Talvez tenhamos que voltar atrás no processo e reavaliar."

    Dúvidas também surgiram em relação a peças de Maurício Nogueira Lima, Ubi Bava e Antônio Maluf.

    Thiago Maluf, filho do artista e diretor do instituto responsável por avaliar a autenticidade das obras, disse ter alertado Ricardo Duarte, dono da Graphos, de que a peça em seu estande podia ser falsa. Mesmo assim, o trabalho estava exposto na abertura da ArtRio.

    "Essa obra possui características similares a outras já identificadas como falsas. Eu alertei o galerista, orientando a retirar a peça por uma questão de segurança e submeter para a nossa análise", diz Maluf. "Ele retornou, enviando apenas uma imagem do quadro, que não foi suficiente. Depois, ele sumiu."

    OUTRO LADO

    O dono da Graphos, Ricardo Duarte, disse que tem documentos que provam a autenticidade das peças, mas decidiu retirar de seu estande as obras de Castro, Bava, Colares e Maluf. "Estou retirando as obras e aguardo o veredicto da direção da feira. Vamos primeiro tratar de esclarecer a comprovação da autenticidade."

    De acordo com marchands do Rio, Duarte não tem histórico de vender obras falsas, mas entrou no ramo da arte moderna há pouco tempo.

    Ele tinha uma molduraria e vendia mobiliário vintage. Depois de vender trabalhos de Vik Muniz na última década, acabou se tornando galerista e transferiu a Graphos de um shopping em Copacabana para a Villa Aymoré, condomínio "artsy" na Glória, região central do Rio.

    Único integrante do comitê de seleção da ArtRio especializado em arte moderna, Max Perlingeiro, dono da galeria Pinakotheke Cultural, foi pressionado por especialistas e marchands como Afonso Costa, Gustavo Rebello, James Lisboa, Jones Bergamin, Paulo Kuczinsky, Ronie Mesquita, entre outros, a denunciar a Graphos à direção da feira.

    Perlingeiro, que já havia deixado o Píer Mauá, foi chamado às pressas por Brenda Valansi, diretora da feira, para discutir o assunto. A cúpula do evento se reuniu então com Duarte para falar das suspeitas levantadas pelas obras.

    "Se houver algum tipo de mácula em relação às obras, a feira não pode endossar isso. Mas pedimos os certificados de autenticidade das peças nevrálgicas, que levantaram o maior número de suspeitas", disse Perlingeiro.

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