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    Volumes de Sérgio Cabral ganham versões digitais em 1.500 lojas virtuais

    ALVARO COSTA E SILVA
    COLUNISTA DA FOLHA

    01/10/2016 02h07

    Em 1961, quando começou a atuar como jornalista especializado em música popular nas páginas do "Jornal do Brasil", Sérgio Cabral sentiu-se um privilegiado. Na época, muitos dos pioneiros do samba e do choro ainda viviam, dispostos a contar tudo o que haviam feito e visto.

    "Era como se você fizesse uma conferência sobre história do Brasil e apresentasse, ao vivo, dom Pedro 1º. Os bambas estavam ali para não deixar ninguém mentir. E muito menos eu, que sempre me considerei um repórter, e comecei a escrever livros sobre eles", recorda Cabral, 79, que comemora a chegada de sua obra ao formato e-book.

    A editora Lazuli fechou um acordo com a distribuidora alemã Bookwire para a venda de oito títulos –entre os mais conhecidos, estão as biografias de Tom Jobim, Nara Leão e Elizeth Cardoso– em 1.500 lojas virtuais.

    Folhapress
    RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 05-12-1974: O jornalista e escritor Sérgio Cabral posa para foto em máquina de escrever. (Foto: Folhapress, 0099)
    O jornalista e escritor Sérgio Cabral usa máquina de escrever em 1974

    A estratégia é buscar leitores de língua portuguesa e amantes da música espalhados pelo mundo –no Japão, existe a maior procura–, além de atender ao mercado interno com obras que estavam esgotadas no papel.

    Um delas é "No Tempo de Ary Barroso", cuja primeira edição é de 1993. "Talvez tenha sido a biografia que mais gostei de fazer. Que compositor extraordinário era o Ary Barroso, e que vida ele teve. Não, não, minto. Apague o que eu disse. A que mais gostei foi a do Pixinguinha. O Ary havia de concordar comigo."

    As biografias de Sérgio Cabral têm um caráter íntimo. Em algumas ocasiões o narrado, fruto de pesquisa e investigação, foi também vivenciado pelo biógrafo, que se tornou amigo e companheiro de copo de alguns deles, caso de Tom Jobim. "Mas não poupei ninguém", garante.

    "As Escolas de Samba do Rio de Janeiro" é um exemplo de pioneirismo. Publicado em sua forma atual em 1996, deriva não só das primeiras reportagens sobre o tema publicadas no "JB" como também de um pequeno volume, "As Escolas de Samba: O Quê, Quem, Como, Quando e Por Quê" (ed. Fontana, 1974).

    Nele, o leitor tem acesso também a depoimentos orais dos "professores": Ismael Silva (em sua conversa com o autor, surge em letra de forma pela primeira vez a onomatopeia "bum bum, paticumbum, prugurundum"), Bide, Buci Moreira, Cartola e Carlos Cachaça.

    Mais um perfil do que uma biografia, com pouco mais de cem páginas, "Ataulfo Alves" foi o último texto publicado por Cabral, em 2009. Considera um livro que devia a si mesmo, por não ter se dedicado tanto ao compositor como fez em relação a Nelson Cavaquinho, Cartola ou Zé Kéti.

    Ao mostrar como o rádio de galena na década de 1920 ajudou a projetar o maxixe e o choro, o estudo "A MPB na Era do Rádio" é um desdobramento da biografia "No Tempo de Almirante" (1990), livro em torno de um nome tão importante como esquecido –e que não está no pacote digitalizado pela Lazuli.

    Entre as obras, também ficaram de fora "Pixinguinha" e "Grande Otelo". "Não temos os direitos autorais. Mas estamos negociando", diz o editor Miguel de Almeida.

    Faltou biografar alguém? "Ah, sem dúvida a Aracy de Almeida, amiga inesquecível. E meu companheiro de Maracanã –ele Flamengo, eu Vasco–, o Cyro Monteiro. Mas quem sabe ainda não me meto nessas aventuras?"

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