• Ilustrada

    Thursday, 02-May-2024 16:36:29 -03

    Moda

    Em quebra de tradição, grandes grifes dão comando a mulheres em Paris

    PEDRO DINIZ
    ENVIADO ESPECIAL A PARIS

    01/10/2016 02h15

    O que estilistas de legados tão diferentes quanto Yves Saint Laurent, Christian Dior, Hubert de Givenchy e André Courrèges têm em comum? Apenas o óbvio: são homens.

    Pode parecer estranho, mas quase toda a moda feminina do último século foi criada por mãos masculinas.

    Nesta temporada parisiense, porém, as grifes Christian Dior e Lanvin, das mais importantes do calendário, quebraram a regra e deram a mulheres, a italiana Maria Grazia Chiuri e a francesa Bouchra Jarrar, respectivamente, o comando de suas linhas de alta-costura e prêt-à-porter.

    "Todos deveríamos ser feministas", lê-se em uma camiseta da primeira coleção de Chiuri para a Dior, desfile mais disputado da sexta (30).

    Além de engajado, o discurso da estilista é uma ferramenta de marketing poderosa numa época em que o "empoderamento" feminino domina o debate na indústria criativa.

    Não faltaram "empoderadas" na primeira fila. Sempre a mais fotografada, a cantora Rihanna dividiu espaço com a ex-primeira dama Carla Bruni e a modelo Kate Moss.

    Maria Grazia evocou símbolos de força. Bordou imagens de tarô e constelações do zodíaco nos vestidos transparentes. Também reverenciou os signos do guarda-roupa feminino, como a lingerie –sobraram tule e renda– e o "new look" de Christian Dior.

    Em vez da jaqueta bar, acinturada, e da saia volumosa que compunham o conjunto revolucionário criado pelo estilista no pós-Guerra, Chiuri fundiu o uniforme dos esgrimistas com a alfaiataria, única lembrança de seu antecessor, o belga Raf Simons.

    Na parte de baixo, saias românticas com desenhos de flores e corações foram os únicos resquícios de seu trabalho na grife Valentino.

    A fusão de masculino e feminino também foi usada por Bouchra Jarrar em sua estreia na Lanvin, na qual enveredou pela alta-costura. Os cortes masculinos dos ternos foram suavizados em tecidos cintilantes e transparências.

    A designer propõe um olhar contemporâneo à noção de alfaiataria feminina. Joga xales sobre estruturas rígidas e materiais leves em peças masculinas.

    Mais chegada à clientela do lado esquerdo do Sena, "cool" e jovem, a francesa Isabel Marant é um dos nomes mais significativos da ala feminina da semana de Paris.

    Na última quinta (29), a estilista, que costuma tirar referências do guarda-roupa de culturas distantes da sua –no ano passado foi acusada de plagiar desenho tradicional de uma etnia mexicana–, decidiu fincar pés no seu país.

    O novo "look" das francesas permeou sua passarela: camisas e macacões listrados com mangas alongadas, vestidinhos curtos com sobreposições de tecidos e uma estampa primaveril ou outra.

    Estampas de flores exóticas, vale frisar. Porque nessa onda feminista pode até haver espaço para a doçura, mas sem sabor enjoativo.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024