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    Crítica

    'Crisis', série de Woody Allen, mais parece um filme interrompido

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

    01/10/2016 20h07

    Woody Allen não é novato no formato televisivo. O diretor começou escrevendo para diversos programas e voltou para a TV algumas vezes ao longo da carreira.

    Então não é surpresa o fato de Allen ter fechado um acordo com a Amazon –que começou a investir pesado em conteúdo audiovisual original há três anos– para a criação de uma série. E assim nasceu "Crisis in Six Scenes", em seis episódios lançados na última sexta (30) para quem assina o programa Prime do portal de vendas nos EUA.

    Divulgação
    Woody Allen vive mais um rabugento na série 'Crisis in Six Scenes', que fez para a Amazon
    Woody Allen vive mais um rabugento na série ''Crisis in Six Scenes'', que fez para a Amazon

    Aos 80 anos, Woody Allen mantém uma regularidade impressionante no cinema, lançando pelo menos um filme por ano desde 1982. Mas ele nunca escondeu o arrependimento de ter aceitado a oferta da Amazon.

    Em 2015, disse à Folha: "Estou com dificuldades, porque não estou acostumado a escrever em seis partes. Precisa ter um gancho empolgante para o próximo episódio".

    Ao assistir aos episódios de "Crisis in Six Scenes", a declaração faz sentido: a dificuldade de encapsular as tramas é visível, principalmente a partir do terceiro capítulo.

    "Crisis" nada mais é que um filme longo interrompido seis vezes a cada 24 minutos. A maioria dos cortes são abruptos. O "gancho empolgante"? Não existe da maneira como estamos acostumados a ver. Mas vamos ver o lado bom: é um filme de Woody Allen com três horas e dividido em seis partes.

    A série começa bem. Allen, que não atuava desde "Amante a Domicílio" (2013), faz o velho neurótico-rabugento-adorável no papel de Sidney J. Munsinger, um escritor frustrado que tem uma vida de luxo bancada por seu antigo trabalho como publicitário.

    Ele divide a vida na década de 1960 com a mulher, Kay (Elaine May), uma conselheira matrimonial. A dinâmica do casal é a melhor parte.

    Allen brinca com a visão da elite em relação aos acontecimentos da época (Vietnã, Panteras Negras, hippies) com diálogos engraçados ("Tenho alergia a gás lacrimogêneo") e uma gama de personagens interessantes que se consultam com Kay.

    Nesse universo, "Crisis" é Woody Allen no seu melhor, e pouco importa se o episódio é formado por três cenas de quase dez minutos de diálogos. É um privilégio.

    A derrapada da série surge com a visita da militante Lennie Dale (Miley Cyrus).

    A partir daí, o foco se perde em discussões repetitivas sobre ativismo e acomodação, com citações a Lênin e Salinger. Cyrus, atriz errada para o papel, pouco pode fazer com falas bobas, como quando explica que sua militância surgiu ao se envolver com um judeu e um negro.

    Lá para a metade, o visual mais teatral da série começa a incomodar. Fica claro que a trama cairia bem num filme de 90 minutos, mas ela se arrasta sem grandes mudanças de cenário ou tema. No final, Allen retoma o caminho certo, mas pode ser tarde demais para um público que acompanhou essa mesma época em "Mad Men" por dez anos.

    *

    CRISIS IN SIX SCENES
    DIREÇÃO Woody Allen
    ELENCO Woody Allen, Miley Cyrus
    PRODUÇÃO EUA, 2016
    ONDE: disponível nos eua, para assinantes do prime

    Edição impressa

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