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    Grupo Folias encena em SP universo fantasioso de 'Cem Anos de Solidão'

    GUSTAVO FIORATTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    07/10/2016 02h12

    Depois que José Celso encenou "Os Sertões", de Euclides da Cunha –a saga durou de 2002 a 2007–, talvez tudo pareça mais simples. Vieram adaptações para "O Idiota" (2010) e "Os Irmãos Karamázov" (2014), de Dostoiévski.

    Chegou a vez de "Cem Anos de Solidão", um desafio comprado pelo grupo Folias –e, neste caso, não falando só do calhamaço do colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), mas também de um universo fantasioso que, sob o manto do realismo mágico, passa por imagens oníricas como a de uma mulher que vira uma revoada de borboletas.

    Com o nome "Solidão" e todo amparado nas inversões lógicas que varreram a América Latina no período das ditaduras, o espetáculo estreia no Sesc Santana para temporada até o dia 23. Depois, reestreia na sede da companhia.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Sao Paulo, SP, Brasil. Data 12-09-2016. Espetaculo Solidao. Atores Ailton Graca e Lui Seixas. Teatro Galpao Folias.
    Atores Ailton Graca e Lui Seixas em cena da peça 'Solidão', no Teatro Galpão

    A dramaturgia poderia ser resolvida com (muitos) cortes; mas o autor do texto, Sérgio Roveri, e o diretor Marco Antonio Rodrigues optaram por uma expansão.

    "Cem Anos de Solidão" tornou-se fonte central da pesquisa, mas a biografia de García Márquez, menções à obra do argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) e de outros autores que compartilharam esse momento literário dilatam a adaptação para um retrato mais amplo do continente.

    Não significa que "Cem Anos de Solidão" se dilua a ponto de ser menos reconhecível. Pincelados da obra, surgem, em cenas quase autônomas, personagens e mais personagens do livro. Úrsula, a protagonista, está lá, em seus últimos dias, prestes a cegar. Fuzilamentos e a chuva de quatro anos também estão lá.

    Para amarrar 17 cenas, Rodrigues usa uma espécie de dinâmica mambembe, como se as histórias saltassem do baú de uma companhia teatral nômade. "É quase como se fosse um conjunto folclórico que, de forma caótica, contasse aquela história", explica. "A gente queria uma estrutura fragmentária".

    A narrativa de García Márquez acaba servindo também como ponte para imagens do noticiário recente. Bem discretamente, surge, na cena de um naufrágio, figura semelhante à criança síria que encontrada morta em uma praia da Turquia em 2015. A morte, em interpretação tragicômica de Ailton Graça, é a personagem que, no fim, costura as cenas.

    No cenário de Sylvia Moreira, ganha simbologia um novelo de tecidos que gira para lá e para cá. A referência é o mito de Sísifo, sujeito condenado a rolar uma imensa pedra até o topo de uma montanha –e toda vez que ele está terminando a tarefa, a pedra despenca de volta à base.

    SOLIDÃO
    QUANDO qui., às 20h, sex. e sábado, às 21h, e dom., às 18h
    ONDE Sesc Santana; av. Luiz Dumont Villares, 579, tel. (11) 2971-8700
    QUANTO R$ 9 a R$ 30
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

    Edição impressa

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