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    Crítica

    Autora desdobra temas diletos em livro adulto e em infantil

    FRANCESCA ANGIOLILLO
    DA EDITORA-ADJUNTA DE CULTURA

    08/10/2016 02h06

    No Brasil como em outros países, o sucesso da Série Napolitana impulsionou a publicação dos romances anteriores de Elena Ferrante.

    Depois de "Dias de Abandono", publicado pela mesma Biblioteca Azul que lança aqui a tetralogia, chegam no fim desta semana, pela Intrínseca, "A Filha Perdida" e "Uma Noite na Praia".

    O segundo, destinado a crianças, é uma espécie de derivado do primeiro. Em ambos, Ferrante volta a temas que lhe são caros.

    No caso de "A Filha Perdida", comparecem o desejo feminino de ter o trabalho reconhecido enquanto se batalha com a vida doméstica, a fé na literatura como caminho, a sensação de inépcia no exercício da maternidade.

    Como em "Uma Noite na Praia", adicionam-se aí temores infantis, como o medo da perda, a codependência entre mãe e filha, que também surgiam em outras tramas.

    Leda, a protagonista de "A Filha Perdida", é uma professora de literatura inglesa que, de férias na praia, encontra uma família napolitana que lhe traz à mente associações perturbadoras com sua própria biografia. A partir do encontro, rememora sua vida.

    Com certa arrogância, começa a especular sobre a família, em especial sobre a jovem mãe, o que fará com que passe a refletir sobre a forma como cuidou de suas próprias filhas e de seu casamento, num momento em que ex-marido e prole vivem no Canadá e ela pode, enfim, se dedicar a si e a seu trabalho.

    Quando a menina, Elena, se perde na praia, movida por empatia e desejo de se fazer notar, Leda procura e acha a criança, aproximando-se assim dos napolitanos.

    Em outro traço recorrente, eis Ferrante brincando com a polissemia dos títulos, um pouco reforçada aqui pela tradução brasileira, que segue o título em inglês, mas não exatamente o italiano, no qual a filha era "obscura".

    Achada a filha, perde-se sua boneca, e o romance envereda pelo aprofundamento dos aspectos psicológicos de Leda, que Ferrante domina de forma precisa, sem parecer esquemática em nenhum momento. É um breve e denso romance, entre os melhores da autora.

    No livro infantil, a narrativa se desenrola do ponto de vista da boneca, esquecida pela dona, Mati, na praia. A angústia terrível do brinquedo é aumentada por personagens que são as forças da natureza –a Tempestade Noturna, a Onda, o Fogo.

    Uma Noite Na Praia
    Elena Ferrante
    l
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    As crianças podem ler, a autora os protegeu com o final é feliz. Os pais também, se quiserem conhecer um pouco mais a escritora e saber como maneja habilmente seus temas favoritos em diferentes registros.

    A FILHA PERDIDA + UMA NOITE NA PRAIA
    AUTORA Elena Ferrante (com ilustrações de Mara Cerri, no infantil)
    TRADUÇÃO Marcello Lino
    EDITORA Intrínseca
    QUANTO: R$ 34,90 ("A Filha Perdida", 176 págs.; "Uma Noite na Praia", 40 págs); r$ 19,90 (cada e-book), já em pré-venda

    Edição impressa

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