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    Villamarim e Leandra Leal mostram filmes de amizade e transformistas

    GUILHERME GENESTRETI
    DE ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    10/10/2016 02h15

    Diretor dos projetos mais ousados da Globo, José Luiz Villamarim exibiu na noite de sábado (8) sua primeira incursão no cinema, "Redemoinho", longa mais aguardado entre os que competem neste ano no Festival do Rio.

    Quem conhece o trabalho autoral do diretor nas minisséries "Justiça" e "Amores Roubados" e na novela "O Rebu" reconhecerá no filme o rigor dos enquadramentos, as longas sequências e o relevo dado à interpretação.

    Walter Carvalho/Divulgação
    Cena do filme 'Redemoinho', de Jose Luiz Villamarim. Foto:Walter Carvalho/Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O ator Irandhir Santos nas filmagens de 'Redemoinho', filme do diretor Jose Luiz Villamarim

    Luzimar (Irandhir Santos) e Gildo (Julio Andrade) são dois antigos amigos que se encontram por acaso, décadas depois de terem se visto pela última vez, quando o último retorna para passar o Natal em sua cidade, Cataguases (MG).

    Há algo por se resolver entre os dois ex-amigos. Envolve, como se verá, um trauma mal digerido que aconteceu naquele lugar, espécie de síntese de um Brasil fabril e interiorano. O silêncio reinante, os tons ocres e o ar parado passam a impressão de que o filme nem brasileiro é.

    "Não foi proposital, foi algo que eu permiti", afirma Villamarim à Folha. "Era uma história que precisava de um clima de contemplação. Os personagens são muito assombrados."

    Assombrados, miram sempre em direção ao que está fora do quadro. A ferrovia que corta a cidade está ali para acenar uma possível fuga.

    "Essa história de quem parte e de quem fica é um drama universal", diz o diretor mineiro, que se uniu a uma produtora conterrânea (Vania Catani, de "O Palhaço") e achou na obra de um autor também conterrâneo ("Inferno Provisório", de Luiz Ruffato) o pretexto para filmar "essa Minas Gerais mais lenta, para dentro". O roteiro é de George Moura.

    DIVAS

    A noite de sábado também marcou a estreia na direção de cinema de outra figura mais conhecida por seus trabalhos na televisão: a atriz Leandra Leal, que apresentou seu documentário afetivo, "Divinas Divas".

    A obra perpassa a história das transformistas que tinham no Teatro Rival, no centro do Rio, um palco de vanguarda e resistência desde os anos 1960. A casa de espetáculos, até hoje tocada pela família de Leandra, foi pioneira ao apresentar shows de travestis como Rogéria, Marquesa e Eloína dos Leopardos.

    Leandra registra os bastidores de um recente show do encontro dessas transformistas da mesma maneira com que, pequena, costumava vê-las: das coxias.

    Inquiridas pela câmera, as entrevistadas vão contando histórias de apuros com a polícia, de internações psiquiátricas forçadas, de casamentos, capas de revista, shows na Europa, operações em Hong-Kong, hormônios para aumentar o seios -um panorama do que era ser transformista nos anos de chumbo.

    Seguindo a tradição de Eduardo Coutinho, a diretora deixa que as entrevistas fluam sem muito roteiro e, à semelhança de Tatiana Issa em "Dzi Croquettes" (2009), embute narrações que dão um tom afetivo ao filme.

    O documentário "Waiting for B.", de PC Toledo e Abigail Spindel, também trata de diva -que é como a cantora Beyoncé é reverenciada pelos fãs que chegam a acampar por seis semanas à espera de seus shows e que são perfilados no longa.

    De forma espontânea e sem muito instigar os entrevistados, o filme observa um entorno do show pelas vozes de seus fãs -em sua maioria, jovens gays da periferia de São Paulo que imitam os trejeitos da cantora, divagam sobre homofobia, racismo e relatam suas agruras sociais.

    O jornalista GUILHERME GENESTRETI viajou a convite do Festival do Rio.

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