• Ilustrada

    Monday, 06-May-2024 04:50:57 -03

    Moda

    Transparências e 'mamilos livres' marcam semana de moda de Paris

    PEDRO DINIZ
    DE ENVIADO ESPECIAL A PARIS

    10/10/2016 02h20

    Transparências e uso de roupas íntimas como adornos marcam temporada de verão do evento francês, inspirado pelo movimento feminista que pede 'liberdade aos mamilos'

    "Free the nipple". A última moda em Paris é uma resposta literal ao movimento ("liberte o mamilo", em português), iniciado no ano passado na internet com hashtag homônima ao filme da ativista Lina Esco, de 2014 –crônica sobre a hipocrisia do discurso anti-topless nos EUA.

    Na semana de moda parisiense, que terminou na quarta-feira (5), estilistas e celebridades fizeram a versão fashion da queima dos sutiãs do concurso Miss América 1968, marco simbólico da luta feminista por igualdade.

    Bertrand Guay/AFP
    Model Constance Jablonski presents a creation for Balmain during the 2017 Spring/Summer ready-to-wear collection fashion show, on September 29, 2016 in Paris. / AFP PHOTO / BERTRAND GUAY
    A modelo Constance Jablonski durante o desfile da Balmain em Paris

    Já no primeiro dia da temporada de verão 2017, a grife Saint Laurent colocou as modelos de peito aberto para os flashes em robes amarrados na gola. O estilista belga Anthony Vaccarello também investiu no fetiche, com couro e rendas, numa reverência roqueira e erótica aos anos 1980.

    Na sequência, a Balmain revelou pedaços da pele em robes transparentes. Mais andrógina, ainda que na mesma linha de pensamento, a nova diretora criativa da Lanvin, Bouchra Jarrar, também seguiu pelo caminho das transparências, numa óbvia lua de mel com o despudoramento corretinho da estação.

    É que, quando se trata de grifes tradicionais como as do calendário de Paris, há um tom de recato nesse bojo.

    Em sua estreia na Dior, a italiana Maria Grazia Chiuri transformou o feminismo num espetáculo de balé, com várias propostas de saias e vestidos de tule bordados com imagens pueris de corações, estrelas e símbolos do tarô.

    Há outras maneiras, controversas, de usar a roupa íntima sem jogá-la no lixo. O sutiã, peça-chave da tendência, apareceu como adorno, sem o viés utilitário, nos desfiles do estilista Giambattista Valli e das grifes Kenzo e Céline.

    A modelo e celebridade das redes sociais Kendall Jenner, do clã das irmãs Kardashian, aderiu à novidade. Por sua vez, a mais famosa da família, Kim, não atraiu o noticiário apenas pelo assalto milionário que sofreu na madrugada da segunda (3) em seu hotel.

    Bertrand Guay/AFP
    A model presents a creation for Kenzo during the 2017 Spring/Summer ready-to-wear collection fashion show, on October 4, 2016 in Paris. / AFP PHOTO / BERTRAND GUAY
    Modelo desfila coleção verão 20174 da Kenzo

    Poucas horas antes do roubo, fato mais comentado da semana, foi fotografada no desfile da Givenchy com um vestido rendado coberto por um robe de cetim. O truque de estilo é aposta da temporada.

    Na grife Alexander McQueen, por exemplo, a estilista Sarah Burton mostrou a peça de cima da lingerie sobreposta a um paletó bordado.

    EVOLUÇÃO REBELDE

    A ideia por trás desse ato de vestir para despir é abolir traços do aprisionamento do corpo que o sutiã representa no guarda-roupa feminino.

    Mesmo criado no início do século 20 e patenteado em 1914 pela ativista americana Mary Phelps Jacob (1891-1970)como uma espécie de "evolução rebelde" do espartilho, o sutiã ainda faz referência ao tempo em que mulheres quebravam costelas e perfuravam pulmões para mostrar corpos de sílfide para os homens.

    Com o passar dos anos, ele adquiriu contornos eróticos e, paulatinamente, virou acessório de moda combinado à calcinha, à cinta-liga, à camisola e ao robe. Por isso, não deverá sair tão cedo do corpo.

    Do ponto de vista mercadológico, a sacada da lingerie aparente é uma mina de ouro para as grifes, atentas ao sucesso comercial de marcas como a americana Victoria's Secret e a italiana Intimissimi no ramo do prêt-à-porter.

    Os desfiles dessas etiquetas, sempre midiáticos, atraem pelas produções extravagantes e pelas possibilidades de uso da roupa íntima.

    A "ousadia" dos desfiles em Paris, então, vai além dos ideais de liberdade feminina. Para os empresários do luxo, que hoje têm receita concentrada na venda de fragrâncias e acessórios, a roupa de baixo pode surgir como o "novo perfume", uma fatia do negócio mais barata, sensorial e sexy que a das roupas de fora.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024