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    ANÁLISE

    Deputados polarizam CPI da Lei Rouanet para sangrar partidos

    RODOLFO VIANA
    DE SÃO PAULO

    13/10/2016 02h00

    Antonio Augusto/Câmara dos Deputados
    Deputado Alberto Fraga (DEM-DF), presidente da CPI da Lei Rouanet
    Deputado Alberto Fraga (DEM-DF), presidente da CPI da Lei Rouanet

    Realizada na terça retrasada (4), a primeira reunião da CPI que pretende apurar na Câmara irregularidades na Lei Rouanet mostrou que a polarização está na raiz da comissão, o que vicia os trabalhos desde o começo.

    A reunião durou 77 minutos, dos quais 51 foram gastos para discutir a convocação do ator José de Abreu à comissão que, em princípio, terá como pilar a Operação Boca Livre.

    Deflagrada pela Polícia Federal em junho, a ação que investiga desvios na Lei Rouanet não implica o ator e notório defensor do Partido dos Trabalhadores. Mesmo assim, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) alega que ele e Camila Paola Mosquella, sua ex-mulher, teriam recebido verba incentivada, mas não prestado contas, e estariam inadimplentes.

    No sistema do Ministério da Cultura, há 1.581 pessoas inadimplentes, mas, até agora, somente o ator e sua ex-mulher seriam convocados por esse motivo.

    O debate acabou com Jorge Solla (PT-BA) bradando: "Vocês não querem apurar nada! Vocês estão jogando esta CPI no ralo, no lixo".

    Talvez Solla tenha razão, e os trabalhos que deveriam servir de base para a criação de mecanismos de controle estejam contaminados.

    Em abril, depois de pedir a abertura da CPI, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF) disse à Folha que "o MinC está sendo utilizado por meia dúzia de pessoas que são simpatizantes do PT e que conseguem recursos".

    Adotou o mesmo discurso raso de leigos que gritam nas redes sociais que "artista é vagabundo", quando se referem a gente que acreditam ser ligada ao PT.

    Fraga também escanteou Vicente Cândido (PT-SP), candidato à relatoria, hoje nas mãos de Domingos Sávio (PSDB-MG). Disse, na época: "Como eu vou ter como relator um deputado do PT?".

    Mais um exemplo: Pompeo de Mattos (PDT-RS) quis convidar à CPI apenas os ex-ministros da Cultura Gilberto Gil, da gestão de Lula, e Juca Ferreira, dos governos Lula e Dilma. Por pressão dos parlamentares, o requerimento foi alterado para chamar todos os ex-ministros, e não apenas os de governos petistas.

    A oposição comete o mesmo erro. Solla quer convocar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), pois seu instituto estaria entre os cem maiores captadores.

    Já Jandira Feghali (PC do B-RJ) quer levar à comissão Bia Doria, mulher do prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), porque ela conseguiu aprovação de quatro projetos na lei. Em ambos os casos, nenhuma irregularidade foi constatada.

    São eventos que, lidos em conjunto, demonstram a partidarização de uma CPI que deveria ser técnica, mas, neste começo, serve apenas para sangrar o lado de lá.

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