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    Criador de Fofão e Patropi, Orival Pessini morre aos 72

    DE SÃO PAULO

    14/10/2016 08h27

    O ator e humorista Orival Pessini,criador de personagens como Fofão, Patropi e Sócrates, morreu na madrugada desta sexta (14), por volta das 4h, no hospital São Luiz, em São Paulo.

    Morto aos 72 anos, ele enfrentava um câncer no baço e estava internado havia duas semanas. A informação foi confirmada pelo empresário do artista, Alvaro Gomes, em sua página numa rede social.

    O ator, nascido em São Paulo, em 1944, era divorciado, deixa um filho e três netas. Seu enterro está marcado para ocorrer às 17h desta sexta-feira, no Cemitério Gethsêmani, no bairro de Vila Sônia, zona oeste de São Paulo. A reportagem entrou em contato com a administração do cemitério, que informou que o velório não tem, até este momento, hora para começar, já que o corpo de Pessini ainda não chegou ao local.

    Rei dos bordões ("sei lá, entende?", "numa velocidade"), Pessini era o humorista que poucos saberiam reconhecer o rosto: seus personagens mais conhecidos estavam sempre mascarados, em geral com grandes bochechas.

    Foi no teatro que o humorista paulistano começou a sua carreira, atuando em peças amadoras. Chegou à televisão em 1963, integrando o programa infantil "Quem Conta um Conto", da TV Tupi. Mas o sucesso viria mesmo na década seguinte, com o programa "Planeta dos Homens", da Rede Globo.

    Nessa atração, que contava com a participação de Jô Soares e Agildo Ribeiro, Pessini interpretava dois dos macacos, personagens do programa: Charles e Sócrates. O primeiro era dono do clássico bordão: "Não precisa explicar, eu só queria entender!". Usando máscaras de látex e argila, os tipos depois inspirariam o trabalho do ator com Fofão e Patropi, também mascarados.

    FOFÃO

    Foi na Globo que Pessini criou o mais famoso de seus personagens, o Fofão –o alienígena de enormes bochechas, nascido na Fofolândia, que trocava as sílabas de lugar e vestia camiseta listrada e macacão jeans. Fofão estreou como um coadjuvante no programa "Balão Mágico", em 1983, e depois ganhou o próprio programa, na Band, graças à sua popularidade entre as crianças. Ficou no ar até 1997, em um programa na Rede Gazeta.

    Sobre a concepção do Fofão, Pessini dizia que havia se inspirado em "E.T.", de Spielberg, e embutiu um nariz de porco, pelos de urso, bochechas de São Bernardo e um pouco de palhaço.

    No programa "The Noite" (SBT), de Danilo Gentli, Pessini disse que queria um personagem que demonstrasse "calor humano" e "sentimento".

    Fofão se tornou, ao lado do palhaço Bozo, um dos símbolos mais característicos da televisão brasileira nos anos 1980. O brinquedo inspirado no personagem virou alvo de uma lenda urbana que circulava naquela década, que insinuava que a coluna do boneco era, na verdade, um punhal. Em entrevista à Folha, em 2014, Pessini se queixava do"desserviço que traumatizou uma geração".

    Também se irritou no começo deste ano, quando descobriu que um integrante da Carreta Furacão, conjunto de adultos fantasiados, planejava ir a um protesto pró-impeachment de Dilma com uma fantasia de segunda mão do Fofão. Pessini proibiu.

    "Eu não autorizo o uso da minha imagem em nenhum tipo de evento político, de um lado ou outro, nem no vale do Anhangabaú, nem na avenida Paulista", esbravejou à época. "É uso indevido de imagem. Ninguém pediu autorização para usar. Não é legal."

    Nos últimos anos, ele também ensaiava um retorno: estava em negociação para relançar o personagem em games para tablets e em desenho animado. O projeto deu lugar ao DVD #FofãoForever, lançado no final de 2015, com apresentações ao vivo de sucessos do personagem como "Som e Fantasia".

    PATROPI E JUVENAL

    Ainda em meio ao sucesso do Fofão, na década de 1980, Pessini criou outro popular personagem: Patropi, inspirado em bichos-grilos universitários.

    Com essa figura, Pessini desfilou o bordão "Sem crise, meu!" em programas de diversas emissoras, como "Praça Brasil" (Band), "Escolinha do Professor Raimundo" (Globo) e "Escolinha do Barulho" (Record).

    Na "Escolinha Muito Louca", da Band, fez outro tipo: o velho rabugento Ranulpho, com seu cachecol e mais uma de suas máscaras bochechudas.

    Também mascarado (e agora com óculos escuros), deu vida ao locutor esportivo Juvenal, de "A Praça É Nossa", aquele do bordão: "numa velocidaaaaaade".

    No SBT também viveu um de seus últimos personagens, Clô, uma sátira ao estilista Clodovil.

    Nos últimos anos, largou a máscara para viver o padre José da série "Amores Roubados", da Globo, e o Senhor Campos, de "Carrossel –O Filme" (2015), seu último longa.

    REPERCUSSÃO

    Simony, que começou sua carreira no "Balão Mágico", lamentou a perda, no Instagram: "Hoje é um dia tão triste, mas tão triste porque eu acabo de perder meu amigo, meu boneco que fez tanto minha alegria e a de muitas crianças. Orival Pessini, eu te amo. Vai com Deus, meu amigão. Meu eterno Fofão."

    Vocalista do grupo infantil Trem da Alegria, outro símbolo dos anos 1980, Luciano Nassyn fez coro: "Tive o prazer de trabalhar com ele depois de adulto em diversas festas por todo o Brasil e conheci a pessoa incrível que ele era [...] e na minha infância tive a oportunidade de apertar as bochechas do Fofão".

    A emissora SBT também emitiu uma nota de pesar pelo antigo funcionário da casa.

    Em sua página no Facebook, o empresário Alvaro Gomes compartilhou um texto de homenagem a Pessini, chamando atenção para o fato de que o humorista "fez várias gerações de brasileiros sorrirem com seus personagens."

    "Suas máscaras o transformaram no macaco Sócrates, do programa Planeta dos Homens, no hippie gente boa Patropi e no inesquecível Fofão, que marcou a infância de tantos milhões de brasileirinhos", diz o texto. "Quem teve a oportunidade de trabalhar e conviver com ele ficava sempre impressionado com seu enorme talento. Vê-lo caracterizado como um de seus personagens era uma experiência inesquecível - e ele adorava ver a reação de surpresa que podia causar com sua arte."

    E termina com ao bordão do personagem Patropi: "Estamos tristes mas... Sei lá, entende?"

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