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    De volta, quinteto Metrô quer resgatar o otimismo da redemocratização

    MARIA CLARA MOREIRA
    DE SÃO PAULO

    16/10/2016 02h59

    Em 1985, a new wave chiclete do quinteto franco-paulistano Metrô se misturava ao otimismo da nação em um momento de abertura política no Brasil. Agora, na ressaca do impeachment, Alec Haiat (guitarra), Xavier Leblanc (baixo), Dany Roland (bateria), Yann Laouenan (teclado) e Virginie Boutaud (vocais) se reúnem pela primeira vez em três décadas.

    "A Vida É Bela (Lalaiá)", primeiro single da retomada, chegou às plataformas de streaming nesta sexta (14).

    Com arranjos de Virginie e letra de Rubem Jacobina, a canção tenta resgatar o otimismo de outrora com versos sobre o prazer da vida.

    Iaskara Florenzano/Divulgação
    A partir da esq.: Dany Roland, Yann Laouenan, Virginie Boutaud, Alec Haiat e Xavier Leblanc, membros da banda Metrô
    A partir da esq.: Dany Roland, Yann Laouenan, Virginie Boutaud, Alec Haiat e Xavier Leblanc, membros da banda Metrô

    "O Metrô está ligado a boas memórias na história do país. Nossa vontade é retomar essa alegria", diz Virginie, filha de franceses que hoje mora nos arredores de Toulouse.

    "Mas é impossível não ficar sensível a esta cena política e, da nossa maneira, a gente vai colocar este clima nas novas músicas", afirma o guitarrista Alec Haiat.

    O engajamento é uma novidade para o grupo, reprovado por parte da crítica dos anos 1980 por trocar a verve contestadora de seus contemporâneos (como Titãs ou Paralamas do Sucesso) por versos ingênuos, recebidos com certo constrangimento.

    O maior exemplo estava na abertura de seu primeiro hit, "Beat Acelerado" (1984): "Minha mãe me falou/ Que eu preciso casar/ Pois eu já fiquei mocinha".

    Haiat refuta o rótulo de alienado. "A nossa transgressão não veio do óbvio, dessa coisa de se voltar contra o sistema, mas de juntar uma música tão brasileira quanto a bossa nova e incorporar à new wave", defende o músico. "'Beat Acelerado' foi feita inicialmente como uma bossa nova, em cima de João Gilberto e Tom Jobim", revela.

    NÔMADE

    A retomada conta com a bênção de Paulo Junqueiro, técnico de som da turnê do LP de estreia, "Olhar" (1985), e atual presidente da Sony Music Brasil –uma versão comemorativa desse álbum foi lançada em agosto. E foi da memorabilia de Junqueiro que saíram as fitas cassetes com registros daqueles shows para as faixas-bônus.

    "Olhar" vendeu 100 mil cópias e embalou o Metrô numa rotina de seis shows por semana. Pressionada pelo sucesso, Virginie deixou o conjunto em 1986.

    "Começamos a viajar muito, descobrimos o Brasil, fomos a todos os programas de TV, cruzamos com os artistas que curtíamos pelos corredores, mas houve um distanciamento da vida tranquila de antes", conta ela, que na época trabalhava como modelo. "Isso acabou tirando o prazer da coisa."

    O Metrô até tentou seguir sem Virginie, escalando o português Pedro d'Orey nos vocais do álbum "A Mão de Mao" (1987), mas a formação rompeu no ano seguinte.

    Após tentativa de carreira solo (seu único disco, "Crime Perfeito", foi um fracasso), a vocalista dedicou-se a uma vida nômade ao lado do marido diplomata, com passagens por Moçambique, Uruguai, Madagascar e França. Viúva, hoje leciona em uma escola infantil.

    Com 30 anos nas costas, o Metrô agora trilha novamente o caminho das pedras: agora, a luta é para ser ouvido na cacofonia das plataformas digitais.

    "É o dia todo no computador, trocando ideia, fazendo contatos, procurando parceiros para vídeos, letras, músicas. Estamos todos com muita energia", diz Haiat. "Está sendo muito legal. A ideia é que seja infinito enquanto dure."

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