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    Turca presa pede liberdade em carta lida na Feira do Livro, em Frankfurt

    MAURÍCIO MEIRELES
    ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

    19/10/2016 02h15

    A abertura da Feira do Livro de Frankfurt, principal evento editorial do mundo, que vai desta quarta (19) até segunda (23), foi marcada pelo pedido de liberdade para a autora e ativista turca Asli Erdogan, presa desde agosto, depois que o jornal para o qual trabalhava foi acusado de apoiar o terrorismo curdo.

    A surpresa foi que, da prisão, a escritora conseguiu contrabandear uma carta para ser lida no evento. O documento foi apresentado pelo presidente da Associação de Editoras e Livrarias Alemãs, Heinrich Riethmueller.

    "Peço ajuda a vocês atrás do concreto, das pedras e dos arames farpados. A consciência está sendo esmagada em meu país... Eles estão tentando matar a verdade", disse ela, em referência as prisões de opositores do presidente Recep Tayyip Erdogan, depois da tentativa fracassada de golpe contra ele, em julho.

    Ao lado da escritora, que participou da Feira de Frankfurt em 2008, quando a Turquia foi homenageada, cerca de 20 jornalistas foram presos.

    Em agosto, já havia circulado um manifesto internacional de escritores pedindo a libertação dela, com autores como o argentino Alberto Manguel, o cubano Leonardo Padura e o brasileiro Bernardo Carvalho –os dois últimos colunistas da Folha.

    O presidente do parlamento europeu, Martin Schulz, também presente no evento, expressou "total solidariedade" à romancista e a outros autores presos na Turquia. Ele fez um apelo ao governo do país para que os libertasse.

    Mais cedo, em entrevista coletiva à imprensa, o presidente da feira, Juergen Boos, já havia mencionado a Turquia ao falar das ameaças à liberdade de expressão do mundo. De acordo com Boos, mais de 30 editoras já fecharam as portas no país depois da tentativa de golpe.

    Ele também mencionou o "desastre humanitário" na Síria e defendeu que tais problemas sejam tratados com "uma cultura de discussão aberta e robusta civilidade".

    O evento editorial, que este ano terá 7.100 expositores, tem a Holanda e a região de Flandres, no norte da Bélgica, como homenageados. Na cerimônia de abertura, também estiveram presentes o rei Willem Alexander, dos Países Baixos, e o rei Felipe, da Bélgica, além do romancista holandês Arnon Grunberg.

    SEM TEXTÃO

    A Feira de Frankfurt parece ter se inspirado na escolha de um músico –o cantor Bob Dylan– para Nobel de Literatura e também decidiu sair do protocolo. Na sua abertura, foi destaque a apresentação do artista plástico britânico David Hockney.

    O pintor e gravurista apresentou o "Bigger Book" (maior livro), que pesa 35 kg e custa US$ 2.500 (cerca de R$ 8.000). Só não dá para falar em textão, porque é um livro com desenhos feitos por Hockney nos últimos 60 anos. A edição ficou a cargo da Taschen.

    Com 79 anos, o artista ainda falou de sua paixão por desenhar em seu iPad e iPhone e mostrou vídeos do processo de desenhar amigos, a Torre Eiffel e flores. "Quem diria que o telefone ia reviver o desenho?", afirmou ele.

    Hockney é um dos convidados de honra da feira deste ano, como parte da série de conferências THE ARTS+, que discutirão o papel das novas tecnologias na produção de conteúdo. A iniciativa é mais um passo do evento em aglutinar não só a cadeia do livro mas de outras mídias –como o cinema e os videogames.

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