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    Biografia falocêntrica mostra vedete Rogéria como amiga e amante

    CHICO FELITTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    20/10/2016 02h30

    Uma senhora loira de 73 anos vê uma moto na vitrine da barbearia Caballeros Barbería, numa galeria do centro de São Paulo, e pergunta: "Querem que eu monte na Harley pra fazer a foto? Não vai ser a primeira vez, 'mon cher'". É difícil propor algo a Rogéria que ela ainda não tenha feito.

    É o que prova a biografia da vedete, cantora, ex-maquiadora e camafeu da cultura brasileira, que sai neste fim de semana e que ela ainda não leu. "A proposta foi ela não ter acesso ao livro até o fim", diz Marcio Paschoal, que já havia biografado o compositor maranhense João do Vale antes de se enveredar pela vida da artista, nascida Astolfo Barroso Pinto, em Cantagalo (RJ) –"Terra de Euclydes da Cunha, o homem mais homem do Brasil, e Rogéria, o homem mais bicha do Brasil", define ela.

    Marcus Leoni/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 10.10.16 15h A transformista Rogéria esta lancando sua biografia (Foto: Marcus Leoni / Folhapress, ILUSTRADA)
    A vedete transformista Rogéria, 73, que lança biografia recheada de 'causos' sexuais

    Biógrafo e biografada já se conheciam do Leme, onde moram. Por anos, se cruzavam no boteco do Gato, onde conversavam sobre futebol. Ambos são flamenguistas, ainda que Rogéria ande achando o futebol "quase tão ruim quanto a política".

    Foram 30 horas de conversa gravada em encontros vespertinos no apartamento dela no começo de 2015, mais depoimentos de pessoas como Miúcha e uma pilha de documentos e recortes —Elke Maravilha contribuiu com a frase: "Rogéria é tão mulher que nasceu com um útero".

    As 240 páginas contam passagens pouco conhecidas, como as amizades com Elis Regina e Fernanda Montenegro. Ou como ela conseguiu ser maquiadora das rivais Emilinha Borba e Marlene simultaneamente, antes de virar ela mesma uma estrela. Há ainda a vez em que Roberto Carlos emprestou um apartamento no centro do Rio para ela, que ainda andava com roupas masculinas, se montar a tempo de chegar femininíssima num baile de Carnaval.

    MILAGRES SEM SANTO

    Mas não se frustre quem veio atrás de narrativas picantes. Há muitos encontros sexuais. O livro conta os milagres sem dar os nomes dos santos. A discrição teve apenas um motivo, garante o biógrafo: "Não tinha como falarmos que ela transou com esse e aquele homem famoso. Era medo de processo mesmo. É a palavra dela, não temos provas".

    Mas mesmo a palavra de Rogéria é maleável, e uma moral fugidia costura a obra. Admite ter aceitado dinheiro (e diamantes e um rico cheque) em troca de umas horas com alguns homens, mas refuta ter sido prostituta.

    Muito se fala sobre genitália —alheia e da protagonista. "Eu gosto do meu peru e gosto de falar sobre ele."

    A atriz diz que quis evitar na obra o vitimismo. Foi chamada de veado desde os seis anos de idade, mas diz que ia à forra, respondendo com sopapos na cara dos agressores ou dizendo coisas como: "É sua excelência Dona Bicha. Cê tá bom, meu amor?".

    Rogéria: Uma Mulher E Mais Um Pouco
    Marcio Paschoal
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    Quem ficar fulo com o estilo de vida e for xingar muito na redes sociais, nem precisa se dar ao cansaço. Rogéria não vê internet. "Não tenho paciência."

    Quando se sente mal, toma um banho antes de rezar para todos os santos. "A alma tem de ser salva, mas o corpo putrifica em 24 horas. Você pode fazer o que quiser com o seu corpo." E ela não fez?

    ROGÉRIA - UMA MULHER E MAIS UM POUCO
    AUTOR Marcio Paschoal
    EDITORA Sextante
    QUANTO R$ 44,90 (240 págs.)

    Edição impressa

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