A cinebiografia é um gênero que busca seu público ao oferecer a vida pessoal de celebridades ou as fragilidades de gente que fez e aconteceu. Por isso, eminências pardas não costumam atrair os consumidores dessas emoções hipercalóricas.

"O Mestre dos Gênios" destoa dessa fórmula ao dar vida ao trabalho do editor Max Perkins, o "famoso quem?" para a maioria que admira livros, mas não leva em conta o trabalhão que dá pôr aquilo no papel.

	Divulgação
	Thomas Wolfe (Jude Law) e Aline Bernstein (Nicole Kidman)

A fama de Perkins veio de sua persistência em transformar escritores talentosos, como F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway e Thomas Wolfe, em "gênios" literários. O filme, adaptado da fascinante biografia escrita por A. Scott Berg, busca redistribuir os créditos das façanhas, concentrando-se no empenho de Perkins junto a Wolfe, o menos popular de seus rebentos.

Desmistificar a criação como obra individual seria o primeiro interesse do filme, conduzido com segurança pelo ator Michael Grandage em seu primeiro trabalho como diretor. Sua contribuição valoriza, sobretudo, o desempenho dos colegas e pode propiciar a Colin Firth e a Jude Law indicações ao Oscar.

Essa típica qualidade de cinebiografias, contudo, acaba desfocando o tema da construção oculta, do trabalho de lapidar a pedra para extrair dela um diamante, enfatizando pela enésima vez os tormentos da alma do artista.

Em vez de desobedecer as convenções, como Don Cheadle em "Miles Ahead", que retrata o mito do jazz e ainda aumenta seu brilho, "O Mestre dos Gênios" prefere conservar a ideia romântica do artista, fazendo a perenidade da obra parecer fruto de algum espírito iluminado e não da persistência e do trabalho.

O MESTRE DOS GÊNIOS
Direção: Michael Grandage
Elenco: Colin Firth, Jude Law, Nicole Kidman
Produção: EUA/Reino Unido, 2016, 12 anos
Quando: em cartaz