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    Fotógrafo German Lorca mostra suas estonteantes imagens coloridas

    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    24/10/2016 00h00

    Divulgação
    Levitação na Piscina', de 2000
    'Levitação na Piscina', de 2000

    Num canto de seu estúdio todo branco, German Lorca lembra tempos mais coloridos. Ele conta que o galpão na zona sul paulistana vivia alugado para campanhas publicitárias até sofrer com os abalos da crise econômica. Foi na publicidade, no caso, que esse artista, um dos pilares da fotografia moderna do país, construiu um lado de sua obra ainda quase desconhecido.

    Lorca fez história com imagens ultrageométricas, em preto e branco, de uma São Paulo que se industrializava ao longo dos anos 1950 e 1960.

    Último sobrevivente do famoso Foto Cine Clube Bandeirante –grupo de fotógrafos que modernizou a linguagem visual no país na primeira metade do século passado–, Lorca, 94, foi um dos cronistas de uma metrópole em transe, de arranha-céus espetando as nuvens, gruas levantando lajes, telhados e telhas em sucessão vertiginosa, luzes e sombras fantasmagóricas –o calor da marcha rumo à modernidade.

    Enquanto o MoMA, em Nova York, acaba de comprar uma série dessas imagens para seu acervo, São Paulo verá agora o avesso dessa sua austeridade metálica. Dezenas de fotografias coloridíssimas do artista, grande parte delas feitas para vender carros, fogões, LPs ou anunciar liquidações, vêm à tona agora numa retrospectiva no Sesc Bom Retiro.

    FÚRIA CAPITALISTA

    "É a primeira vez que eu faço isso", diz o fotógrafo. "Queria mostrar as fotos coloridas que nunca foram mostradas."

    Juntas, essas imagens inéditas ou pouco vistas documentam de forma indireta a fúria capitalista por trás do crescimento da cidade que tanto atraiu o olhar de Lorca, ou seja, eram sonhos de consumo que povoariam túneis, avenidas e estradas de ferro.

    Estão ali os carros, elegantes Aero Willys ou os Renault Dauphine, pilotados por senhoritas como Bibi Ferreira, Maria della Costa e Eva Wilma. Também estão lá os fogões em cores saturadas para compor interiores modernos.

    Mais surreal, uma delas mostra um Jeep carregando uma girafa. Lorca lembra a loucura que foi fazer a foto no centro da cidade –irritado, o bicho fugiu e foi dar uma volta pelo vale do Anhangabaú.

    Entre uma e outra campanha, o artista fazia experimentos coloridos –da mesma forma que usava o tempo livre na era em preto e branco para criar suas imagens mais icônicas, como aquela em que pôs o filho e a avó diante da Oca no parque Ibirapuera em construção, como se fitassem um disco voador caído do céu.

    Em cores, Lorca flagrou um colchão de ar vermelho flutuando na superfície azulzíssima de uma piscina, o reflexo das torres do World Trade Center na carroceria arredondada de um Jaguar deslizando pela rua e as luzes de Nova York enfeitada para o Natal.

    "É impressionante como eles iluminam a cidade toda [Nova York]", diz Lorca. "Então eu remontei essa imagem para dar mais força e mais confusão." Ele fala das duplas e triplas exposições que costuma fazer, multiplicando os pontos de vista numa mesma imagem para criar sombras e brilhos insuspeitados, imitando o enxame de luzes das grandes cidades.

    Nova York e São Paulo são os lugares mais fotografados. Na mostra, uma visão da capital paulista em que os prédios parecem se multiplicar surge contraposta a Manhattan retratada do mesmo jeito, um paredão de aço e vidro colorido.

    *

    GERMAN LORCA
    QUANDO abre qui. (27), às 19h; de ter. a sex., das 9h às 20h; sáb., 10h às 20h; dom., 10h às 18h; até 26/2
    ONDE Sesc Bom Retiro, al. Nothmann, 185, tel. (11) 3332-3600
    QUANTO grátis

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