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    Tony Ramos e Lima Duarte conversam sobre a novela 'Pai Herói'

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    31/10/2016 02h00

    Marcus Leoni/Folhapress
    Tony Ramos e Lima Duarte relembram novela clássica de Janete Clair
    Tony Ramos e Lima Duarte relembram novela clássica de Janete Clair

    Janete Clair está na sala do apartamento de Lima Duarte em São Paulo. "Essa turma aqui fez a TV. Olha aqui a Janete", diz o ator, enquanto aponta para um retrato da novelista (1925-1983), emoldurado em um pôster onde se veem, além da autora e do próprio Lima, o elenco da Rádio Tupi em outubro de 1947.

    Os corredores da TV Tupi, emissora pioneira no país criada a partir da rádio de Assis Chateaubriand, se encarregaram de apresentar Lima a Tony Ramos. E Janete, apelidada de Maga das Oito por seus sucessos de audiência, se encarregou de criar, pela primeira vez, a relação paternal entre os dois na novela "Pai Herói" (1979), atualmente no ar pelo Viva em sua primeira reprise em 37 anos.

    MAGA

    A reexibição de "Pai Herói" é a primeira de Janete Clair no Viva, abastecido, em suma, pelo acervo da Globo.

    Na trama, Lima vive o avô que cuida do neto órfão André Cajarana (Tony), que sai do interior mineiro para o Rio para passar a limpo a memória e a honra de seu pai, morto sob a fama de ser um dos bandidos mais temidos da cidade.

    Uma decisão estratégica da Globo foi a responsável pelo clássico parentesco no folhetim. Lima deveria interpretar o padrasto de André, o rico hoteleiro Bruno Baldaracci, "mas não podia porque já tinha feito um italiano em 'Os Ossos do Barão' [1979] e não poderia repetir". O papel ficou para Paulo Autran, em sua estreia em telenovelas.

    Perpassa a saga do herói a observação dos costumes sociais do Brasil do fim dos anos 1970. Há uma mocinha presa em um casamento por interesse e uma mãe solteira despachada que banca a filha com os lucros da gafieira.

    "Janete Clair nunca deixou de ser boa. Às vezes, a intelligentsia tinha um olhar blasé [para ela]", diz Tony. "Tinha uma sensibilidade de dona de casa. Sabia o que o povo queria. Era absolutamente romântica e ao mesmo tempo tinha sofisticação ao olhar a vida."

    Os atores contam que a Maga não conseguia se distanciar emocionalmente de suas histórias. Certa vez, Lima encontrou a autora enquanto gravava o desfecho de "Pecado Capital" (1975), em que vivia Salviano Lisboa, magnata que se humaniza ao se apaixonar por Lucinha (Betty Faria), noiva do protagonista Carlão (Francisco Cuoco).

    "Quem ia ficar com a Lucinha virou um drama existencial do povo brasileiro. Quando vi a Janete, perguntei com quem ela ia ficar, porque aí já encaminhava como ia terminar a novela'", relata Lima.

    O ator afina o tom de voz para imitar a resposta de uma Janete comovida: "'Ele fica com a Lucinha, Deus vai ajudar'. Ela torcia escrevendo."

    REENCONTRO

    Lima Duarte e Tony Ramos se reencontraram desta vez a pedido da Folha, há uma semana. Na ficção, já se reviram como pai e filho em "A Próxima Vítima" (1995) e mais recentemente em "Caminho das Índias", de 2009.

    Nesta última, o parentesco só se revelava no último capítulo, quando a personagem de Laura Cardoso, mãe de Opash (Tony), confessava a paternidade de Shanlar (Lima) para impedir o filho de chicotear o próprio pai.

    A cena é uma das prediletas de Tony: "Fiz alguns últimos capítulos da melhor qualidade, mas neste fizemos uma das cenas mais bonitas da TV. Gravamos de primeira."

    Tony, 68, e Lima, 86, têm 18 anos de diferença entre si, mas fazem parte de uma mesma geração pioneira nas telenovelas. Conheceram-se na espera dos bastidores da dramaturgia ao vivo da Tupi, e encontravam-se nas cadeiras da barbearia Lau's Barber Shop, que costumava atender os atores da TV paulista.

    Atravessaram os mesmos tempos frugais para astros da televisão. Com atrasos nos salários da Tupi que se arrastavam por até quatro meses, precisavam emendar trabalhos e fazer temporadas no teatro durante as novelas.

    E "perseguiam boca de gringo", pontua Tony sobre os trabalhos como dublador. "Eu sou o Manda-Chuva", Lima diz com a voz do personagem de Hanna-Barbera. "O que eu gosto mais é o Wally Gator: 'Uooou, uooou'", e ri.

    Primeiro bandido da primeira telenovela do Brasil —"Sua Vida me Pertence", exibida em 1951 pela Tupi—, Lima prepara-se para gravar um suspense com Fernanda Montenegro, com roteiro de Fernanda Torres e direção de Andrucha Waddington.

    Hoje, ele conta que não sabe se ainda tem disposição para a rotina puxada de uma novela —a última foi "I Love Paraisópolis", em 2015.

    "Até parece que você não vai mais!", provoca Tony. "Você sabe com quantos [projetos] eu cruzo e falo: 'Isso aqui é para o Lima'?", e ri, "Você não vai se livrar não, meu velho."

    NA TV
    Pai Herói
    QUANDO seg. a sáb., às 23h30; reprise às 13h30, no Viva

    Edição impressa

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