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    Em 'Canção da Volta', Marina Person vive drama de mulher depressiva

    GUILHERME GENESTRETI
    DE SÃO PAULO

    03/11/2016 02h15

    Marina Person surge em cena no filme "Canção da Volta" em estado de letargia: move-se lentamente, está cabisbaixa, mal encara o espelho.

    Em sua primeira incursão como atriz num longa, sua imagem combalida vai assustar a geração que cresceu na virada do milênio com os olhos grudados na MTV, onde ela foi apresentadora por 16 anos. E também os jovens que mirou em "Califórnia", ficção dirigida por ela em 2015.

    "Quem me conhece da TV já tem uma imagem muito solidificada de mim. Os que esperam uma coisa mais leve talvez fiquem decepcionados", diz ela, que no longa faz Julia, mulher depressiva que tenta se recompor com a família após tentar o suicídio.

    "Canção da Volta" é dirigido por Gustavo Rosa de Moura ("Cildo", "Piadeiros"), casado com Marina. E traz João Miguel ("Estômago") como Eduardo, o marido cujo ponto de vista conduz a trama.

    Fora pontas, Marina contava com pouca experiência como atriz: fez um curta dirigido pelo marido em 2011 e, no ano seguinte, se submeteu à fúria do diretor teatral Antunes Filho num curso de dois meses. "Ele me dava altas broncas, dizia que não queria o 'realismo besta da TV'", diz a paulistana de 47 anos.

    Marina também cavoucou o universo do suicídio nas páginas de "O Deus Selvagem", do ensaísta inglês A. Alvarez, que esmiúça os aspectos culturais do ato de se matar por meio de casos como o da poeta americana Sylvia Plath.

    "Ele escreve que no caso dela foi um pedido de socorro inconsciente. Fiquei fascinada. O suicídio é um enigma", afirma, sentada no sofá de seu apartamento, em Higienópolis, que também serviu de locação para o filme.

    "Se nós cineastas não toparmos filmar nas nossas próprias casas, quem vai topar?", indaga Marina, que nos meses de filmagem "atrapalhou toda a vida do prédio" com o zanzar da equipe de produção a toda hora do dia.

    O apartamento aparece bem diferente em cena: no longa, está sempre escuro, claustrofóbico. Pouco remete ao que recebe a Folha: ensolarado, decorado com miniaturas dos Beatles, vinil de "Easy Rider" à vista e um pôster antigo do filme "São Paulo, Sociedade Anônima", de Luiz Sergio Person, pai de Marina.

    As diferenças do lugar servem como resumo da própria transformação de sua dona no filme. "Tive que desmontar essa minha persona, essa coisa do naturalismo da televisão, de olhar para a câmera, falar com o público. No filme é o oposto", afirma a atriz.

    Desmontar a persona televisiva também significou encarar cenas de sexo e nudez. "Fiquei com medo, mas tirar a roupa é algo que você faz uma vez e depois fica totalmente... É meio libertador."

    Marina evoca a relação entre a atriz Gena Rowlands e o diretor John Cassavetes, casados na vida real e parceiros nos filmes, ao citar seu trabalho com o marido, Gustavo.

    Diz que "Uma Mulher Sob Influência" (1974), obra central na produção independente americana, foi referência. "Assim como Cassavetes, Gustavo também gosta que a fotografia funcione em torno do ator, e não o contrário."

    Em breve, ambos devem rodar "Antes Tarde do que Nunca", comédia feminista em que nenhuma das personagens "corre atrás do marido" e que Marina vai dirigir.

    Ainda neste mês, ela volta para frente das câmeras apresentando o programa "Magazine Arte 1", na TV paga, e quer dar novo gás a seu canal de comida saudável no YouTube, o "Marinando". Anda interessada pelas chamadas Pancs, as plantas alimentícias não convencionais, como maxixe e ora-pro-nobis. "Pancs. Adoro o nome", diz.

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