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    'Nunca é fácil chorar em cena', diz Fassbender, que estrela novo drama

    BRUNO GHETTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM VENEZA

    04/11/2016 02h31

    "Você achou o filme muito melodramático? Pode ser honesto", pergunta Michael Fassbender, suando em bicas no lounge de entrevistas do Festival de Veneza, onde estava representando "A Luz Entre Oceanos".

    Apesar da transpiração que, resistindo às tentativas de hidratação com sucessivos goles d'água, brotava por entre os fios da sua barba ruiva, o ator não parecia incomodado, mas sim feliz.

    "Eu sabia que era um melodrama, inclusive foi esse aspecto à moda antiga uma das coisas que mais me atraíram. Mas deixo com o diretor como ele vai conduzir tudo. Esse trabalho é dele", diz sobre o filme de Derek Cianfrance que agora estreia no Brasil.

    Na acalorada ocasião, Fassbender estava voltando ao evento que o premiou em 2011 (por "Shame"), agora já como um dos atores mais respeitados de sua geração. Vinha acompanhado de Alicia Vikander, sua mulher no filme e na vida.

    "Quando eu trabalhava em bares, pensava: 'Se um dia eu ao menos puder pagar as contas só como ator, já me dou por feliz'. Mas agora a realidade virou um sonho em seu ponto mais alto".

    O rosto ensopado traz o ar de alívio típico de quem não tem mais nada a provar na carreira –o que logo é desmentido. "Acho que agora deveria fazer uma comédia. Ou um musical", afirma.

    Quem vê "A Luz Entre Oceanos" entende a vontade de mudar: o longa tem uma carga dramática pesada.

    A adaptação do best-seller de M.L. Stedman traz Fassbender como Tom Sherbourne, veterano da Primeira Guerra Mundial que vive em uma ilha no oceano Índico com sua mulher, Isabel.

    Abortos espontâneos frustram o sonho do casal de ter um filho. Mas eis que o destino dá as caras na forma de um barco à deriva, trazendo um bebê. A dupla adota a criança, mas depois descobre que sua mãe biológica está viva. É o começo de um oceano de lágrimas.

    Em contraponto ao tom lacrimogêneo do filme, o personagem de Fassbender é introspectivo. "Tom internaliza tudo: não quer levar aos outros questões que são só dele", conta o ator, que para o filme mudou radicalmente o registro de atuação que havia usado no longa anterior, "Steve Jobs" (2015), de Danny Boyle, em que vivia o personagem-título.

    "Fazer o Steve Jobs foi mais difícil no nível mecânico, porque eram muitas falas para decorar. Mas não sei com qual dos dois personagens eu mais me identifico, embora haja elementos heroicos em Tom que me atraem: ele é um homem de uma era que não volta mais. Tem princípios firmes: quando diz algo, vai até o fim."

    Apesar de contido, Tom tem também instantes de ebulição emocional, como quando sua mulher implora para que eles fiquem com o bebê. "Nunca é fácil chorar em cena, nunca sei se vou conseguir. Quando as cenas de choro se aproximam, eu sempre penso: 'Droga! O dia está chegando!'."

    Enquanto o ator falava, no outro canto do mesmo lounge, linda e impecavelmente seca, Alicia Vikander conversava com outro jornalista.

    "Já havíamos nos visto em uma festa antes. Mas nos conhecemos melhor nas filmagens", conta o ator. "Provavelmente nas nossas cenas houve mais química por estarmos juntos [na vida real]".

    Mas a verdadeira chave de uma boa atuação ele crê ser outra: a compreensão do roteiro. "Sempre trabalho com o que fornece o script: é a minha bíblia. Releio várias vezes, de novo e de novo. Fazendo isso, ele vai lentamente sendo absorvido por mim", diz, como se revelasse uma fórmula secreta.

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