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    Fernanda Abreu reassume vocação dançante em shows de novo álbum

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    03/11/2016 17h24

    Fernanda Abreu faz show neste fim de semana em São Paulo, na turnê que lança "Amor Geral". É apenas o sexto álbum de estúdio da cantora, que sai 12 anos depois do anterior, "Na Paz". Mas o disco novo parece mais ligado ao início da carreira dela, notadamente sua estreia, "SLA Radical Dance Disco Club", de 1990.

    A conexão é reconhecida por Fernanda, 55, em entrevista à Folha. "Num primeiro disco, você tem coisas que guardou a vida inteira para gravar ali. 'Amor Geral' aparece depois de um tempo muito grande em que fiquei sem gravar. Então tem toda uma história dentro do seu HD pessoal pedindo para sair."

    Após um período voltada à vida pessoal, ela retoma a inventividade que mostrou ao formatar uma vertente de música dançante brasileira. Além do disco novo, está relançando em plataformas digitais todo o seu catálogo.

    "A gente quando faz um disco não fica ouvindo muito depois. Mas, para o relançamento digital, dei uma ouvida nos álbuns. Estranhamente, acho que qualquer uma daquelas músicas poderia ter sido lançada agora. Apesar de gostar de ouvir as novidades, tem alguma coisa em mim que vai guiando a produção e não deixa que eu faça um clone do que está rolando em cada época."

    Ela acredita que, por intuição, conseguiu fazer nesses 27 anos de carreira discos que têm uma certa unidade. "A conexão existe. Preparei para o show um medley de músicas do 'SLA' que cabe perfeitamente no repertório."

    As apresentações em São Paulo terão seis músicas de "Amor Geral" e sucessos mais agitados. "Optei claramente por um show dançante. Passei um tempo procurando duas vocalistas que cantassem e dançassem. E acabei botando uma menina que só canta e outra que só dança."

    Fernanda quis evitar um grupo de dança no palco –"é o que todo mundo anda fazendo, da Beyoncé a Anitta". Ela se diz cansada do formato. "Meu negócio sempre foi dar espaço para a banda, nada daquela coisa da Madonna na frente com bailarinos e a banda no escuro, lá atrás."

    Ela acha importante relançar seu catálogo, porque o público mais jovem não conhece seu trabalho por completo. "Tem gente que vai ouvir 'Kátia Flávia' e achar que é uma coisa nova."

    Fernanda não recusa o crédito por ter levado a cena funk carioca para um público maior. "O racismo é muito grande no Brasil. Em 1990, o que se conseguia absorver de negros fazendo música brasileira era o samba. Tive uma surpresa ao ir ao meu primeiro baile e ver 5.000 negros dançando num salão em Botafogo. Senti uma cena cultural fortíssima acontecendo."

    Ela comenta a marginalização imposta ao gênero na época. "Tudo era culpa do funk. Arrastão na praia? A culpa era do pobre, preto, favelado e funkeiro. Eu sou tudo menos funkeira, não tenho funk na minha história, mas sou meio esse figura que fez uma ponte do morro para o asfalto."

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    FERNANDA ABREU
    QUANDO sábado (5), às 21h, e domingo (6), às 18h
    ONDE Sesc Pinheiros, r. Paes Leme, 195, tel. (11) 3095-9400
    QUANTO de R$ 12 a R$ 40
    CLASSIFICAÇÃO 10 anos

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