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    Crítica Seriado

    Episódios iniciais mostram o lado humanizado da realeza britânica

    SYLVIA COLOMBO
    DE SÃO PAULO

    06/11/2016 02h00

    "The Crown" traz um acurado retrato do Reino Unido após a vitória na Segunda Guerra (1939-1945). A série mostra um país com o orgulho nacional em alta, uma família real popular, um rei carismático, pai de duas bonitas princesas –a mais velha a ponto de se casar com um belo, atlético e carinhoso aristocrata.

    Logo de cara, porém, vemos que nem tudo vai bem com os Windsor. A começar pela primeira cena, em que o rei George 6º (Jared Harris) aparece tossindo sangue.

    Os primeiros episódios mostram a fugaz degradação de sua saúde e o modo sutil como ele entrega a coroa à filha Elizabeth. É curioso como praticamente não há diálogos. Sabendo que lhe resta pouco tempo, o rei se limita a transmitir, basicamente pelo olhar, a mensagem de que logo um pesado fardo cairá sobre as costas de sua primogênita.

    Além do luto, Elizabeth (Claire Foy) precisa aprender a lidar com a defensora máxima do trono, a avó e rainha Mary (Eileen Atkins), cuja lição é: "A coroa deve sempre ganhar", ou seja, não haverá perdão se a moça cometer o mesmo "erro" de seu tio Edward, que abdicou do trono para se casar com a americana divorciada Wallis Simpson.

    Nessa passagem, predomina a versão oficial e romântica da saída de Edward –a de que ele deixou o trono por amor– e menos a de que teria alguma simpatia pelos nazistas. Quando volta para o funeral do irmão, é recebido com frieza pela família, mas efusivamente pelos ex-súditos. Fica sugerida a ideia de que Elizabeth, às escondidas da avó, acata um par de conselhos seus.

    "The Crown", no entanto, não se limita a ser um relato de bastidores da linhagem, e sim uma narrativa de como o poder se reajustou no Reino Unido do pós-Guerra. A perspectiva da sucessão do primeiro-ministro Winston Churchill, de quem Elizabeth parece ter medo a princípio, mas com quem logo aprende a barganhar, é um exemplo.

    Outro aspecto a se desenrolar é o novo papel da família real na Inglaterra contemporânea, que a monarca praticamente reinventa, dando-lhe a longevidade que até hoje persiste.

    A primeira temporada cobre até 1956, o que mostra que os produtores não têm pressa de chegar aos dias de hoje. Até aqui, os personagens se mostram humanizados, e a instituição, reluzente. A ver como serão contadas as passagens mais turbulentas da família que virão adiante.

    *

    THE CROWN
    QUANDO Já disponível na Netflix
    AVALIAÇÃO Bom

    Edição impressa

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