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    Beleza não merece ser critério, diz Jochen Volz, curador da Bienal de SP

    FABIO CYPRIANO
    CRÍTICO DA FOLHA

    07/11/2016 02h29

    A 32ª Bienal de São Paulo, "Incerteza Viva", se tornou uma espécie de extensão das ocupações escolares. "Os temas discutidos pelos alunos nas ocupações estão presentes em todas as visitas escolares", conta o curador da mostra, Jochen Volz.

    Mais de 100 mil estudantes já passaram pela mostra, de um total de 600 mil visitantes alcançado na semana passada. Com isso, a Bienal já supera o público de suas últimas quatro edições.

    Inaugurada em meio à instabilidade política do país, com seus artistas defendendo o "Fora Temer", a mostra já tem 15 itinerâncias previstas para o ano de 2017.

    "A incerteza vai continuar", ironiza Volz, que já foi escolhido para cuidar da representação brasileira na Bienal de Veneza, no próximo ano, mas não fala sobre o assunto, já que a Fundação Bienal ainda não fez o anúncio formal da escolha.

    A seguir, o curador faz um balanço da mostra, avalia as críticas negativas e aponta o que a mostra tem em comum com as ocupações.

    NELSON ALMEIDA/AFP
    Jochen Volz, curator of the XXXII Bienal Internacional de Sao Paulo, poses in Sao Paulo, Brazil on September 14, 2016. Approximately 90 artists are present in the exhibit that will continue until December 11. / AFP PHOTO / NELSON ALMEIDA ORG XMIT: SAO001
    O alemão Jochen Volz, curador da 32ª Bienal de SP e um dos diretores artísticos do Inhotim

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    Folha - Por que você acha que a Bienal se tornou tão popular?
    Jochen Volz - Acho que é uma conjuntura, a começar pelo título, que tem ressonância com algo que ocorre no país, a necessidade de se debater certas urgências. Também tem a divulgação muito bem realizada e um trabalho importante de a mostra se estender dentro do parque de uma outra forma, o que acredito ter sido a mudança mais radical.

    Você se refere ao fim das catracas na entrada?
    Sim. O que eu sempre quis fazer e acho que deu certo é a ideia de eliminar o anteparo no lobby que foi configurado nessa área do térreo muitas vezes. Antes, a mostra só começava após as catracas e o detector de metal. Agora, ela começa da porta para dentro.

    Existem pesquisas que apontem para isso ou é algo baseado em sua sensibilidade?
    A visitação escolar é a mesma dos anos passados, em torno de 100 mil estudantes. Então, o que tem lotado não são as escolas, mas o público espontâneo.

    Sejam turistas ou frequentadores do parque, é seguro dizer que há uma abertura maior aos 200 mil visitantes semanais do Ibirapuera.

    A abertura da Bienal foi marcada por manifestações de artistas contra o impeachment. Agora, as ocupações nas escolas se tornaram uma questão importante. Como a Bienal se aproxima disso?
    Como é uma Bienal que se dedicou a um conjunto de temas como ecologia, educação, formas de conhecimento e outras narrativas, e isso tudo é tema das ocupações, então, nas visitas das escolas, os estudantes seguem esses debates aqui.

    A mostra tem muitas ativações de obras, com performances e concertos. Isso ajuda?
    Sim, é o entendimento de que a exposição não está pronta quando ela abre. Muitos trabalhos, como os do Bené Fonteles e da Vivian Caccuri, são baseados na ideia de ativação constante ou periódica, e o público tem grande papel nisso.

    Algumas críticas à Bienal reivindicam a presença de obras bonitas, beleza e estética. Acredita que isso pode ser cobrado da produção contemporânea?
    Eu acredito que a beleza não mereça ser usada como categoria. Eu mesmo vejo muitos trabalhos bonitos na mostra. Houve uma preocupação de nossa parte em desenvolver trabalhos propositivos, que propõem algo para pensar, para entender algo diferente, e, para mim, são categorias estéticas.

    Por exemplo?
    O trabalho do Víctor Grippo [1936-2002] é uma experiência estética, um trabalho lindo no qual a beleza não está na forma, mas na potência poética que ela consegue oferecer.

    Esse é um caso que foi criticado e que posso citar porque foi feito para a Bienal de São Paulo em 1977 e está sendo mostrado pela terceira vez! Um trabalho como esse tem uma relação profunda com esse prédio e com a história do Brasil. É um tesão mostrá-lo aqui de novo.

    Agora, quero também ressaltar que essa é uma exposição muito complexa e com muitas linguagens distintas e contraditórias. Em um momento tão polarizado, é uma aposta muito importante.

    Nesses dois meses, o que o surpreendeu aqui?
    Houve trabalhos de contato direto com o público, que foram além da expectativa.

    Um exemplo foi a escultura do José Bento, "Chão", que na linguagem popular virou "pula-pula" e uma instituição inteira teve que repensar em como conduzir visitas e propor uma interação mais cuidadosa.

    *

    32ª BIENAL DE SÃO PAULO
    QUANDO até 11/12; ter, qua, sex, dom e fer.: das 9h às 18h; qui e sáb: das 9h às 21h; fechada às segundas
    ONDE Pavilhão da Bienal, av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, parque Ibirapuera, portão 3, tel.:5576-7600
    SITE 32bienal.org.br
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