• Ilustrada

    Tuesday, 07-May-2024 15:04:29 -03

    Filme de Christian Marclay que dura um dia inaugurará novo IMS em 2017

    DAIGO OLIVA
    EDITOR-ADJUNTO DE IMAGEM
    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    08/11/2016 02h00

    Mais de dois anos antes de sua abertura, quando o canteiro de obras ainda era um enorme buraco na avenida Paulista, no quarteirão entre as ruas da Consolação e a Bela Cintra, a nova sede do Instituto Moreira Salles começou a ser fotografada, como um filme em câmera lentíssima.

    Vigas e lajes fantasmagóricas, flagradas em momentos distintos da construção, vão estampar as imagens do alemão Michael Wesely, escalado para documentar a obra.

    Quando tudo estiver pronto, em julho de 2017, outro trabalho vai ilustrar com exatidão angustiante a ansiedade que ronda a aparição do mais novo museu paulistano. "The Clock", uma colagem visual de 24 horas de duração, vai inaugurar o espaço em julho do ano que vem.

    Divulgação
    Cena do filme 'The Clock', de Christian Marclay
    Cena do filme 'The Clock', de Christian Marclay

    Obra mais famosa do americano Christian Marclay, premiada com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza há cinco anos, o filme costura cenas de cinema que mostram cada minuto de um dia –o horário na tela sempre corresponde à hora no relógio do espectador, criando a estranha sensação de ver o tempo passar ao vivo na ficção, com a artificialidade exuberante de Hollywood.

    "Há uma tensão entre o que está acontecendo na sua vida real e o que se passa no filme, já que são dois mundos diferentes em total sincronia", diz Marclay. "Penso nesse trabalho mais como uma experiência do que uma obra de arte, porque você não assiste a isso como vê um filme no cinema. É um ambiente, como um jardim onde você pode passear sem hora para chegar ou sair."

    Mas esse jardim vai da primavera ao outono em velocidade alucinante. Na tela, rostos famosos como os de Meryl Streep, Jack Nicholson, Richard Gere, Charles Chaplin, Marlon Brando, Sophia Loren, entre muitos outros, surgem vendo as horas em momentos distintos de suas vidas, num turbilhão que embaralha juventude e velhice.

    "Você reconhece essas pessoas, e elas ficam mais velhas, às vezes mais jovens minutos mais tarde", diz o artista. "É o que reforça essa consciência da morte que todos temos, uma reflexão sobre a passagem do tempo."

    Marclay, 61, já passava dos 50 quando inventou "The Clock" e diz que não faria uma obra dessas ainda jovem, embora veja na obsessão pelo tempo que ela reflete um eco da contemporaneidade regida por smartphones e relógios inteligentes, "coleiras eletrônicas que nos dizem o que fazer a cada instante".

    Outro ponto central do filme tem a ver com as origens de Marclay como DJ e músico punk antes de se firmar nas artes visuais há duas décadas. "O tempo é a maneira mais básica de explicar a música", diz o artista. "É possível fazer uma obra sonora que seja muito visual ou um trabalho visual sobre a música."

    Divulgação
    Futura sede do Instituto Moreira Salles, desenhada pela firma Andrade e Morettin. Credito: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Futura sede do Instituto Moreira Salles, desenhada pela firma Andrade e Morettin

    Em "The Clock", a trilha sonora dos filmes, que vaza de uma cena para outra, marca o ritmo, acentuando os momentos de tensão ou drama. No processo de edição, que levou três anos, Marclay notou que os grandes acontecimentos no cinema sempre se dão em horários redondos –meio-dia e meia-noite são os campeões de tragédias ou eventos gloriosos, e a música corresponde aos ponteiros com pausas, graves e agudos calculados.

    "O tempo é elástico no cinema", diz Marclay. Fanáticos, aliás, terão a chance de ver as 24 horas do filme em viradas que o museu deve organizar ao longo da mostra. "Você vê o tempo passar, mas se envolve com as tramas. É isso que torna esse filme tão atraente."

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024