O ponto de partida de "A Chegada" é estimulante: olhar a interação entre homens e alienígenas como uma aventura intelectual –e, mais especificamente, da linguagem.
Aspecto coadjuvante em muitos filmes de ficção científica (basta lembrar do "E.T. phone home"), ele é elevado a questão central neste novo filme do canadense Denis Villeneuve ("Incêndios", "Sicario").
A protagonista é, não por acaso, uma linguista, a dra. Louise Banks (Amy Adams, comprovando mais uma vez ser uma das melhores atrizes de sua geração).
No começo do filme, ela perde uma filha adolescente para uma doença fatal. Mas continua trabalhando como professora em uma universidade. Sua rotina é interrompida pela chegada de alienígenas à Terra.
Louise é, então, convocada por militares americanos –ao lado do matemático Ian Donnely (Jeremy Renner)– para "traduzir" a língua dos alienígenas e entender se eles vêm em paz ou representam uma ameaça.
As tentativas de "diálogo" entre Banks e as estranhas criaturas com sete pernas são, de longe, os momentos mais fortes de "A Chegada".
O ponto central do filme é a noção de que a linguagem é ainda mais primordial que a ciência. Mas, em paralelo à criativa aventura linguística, "A Chegada" apela à convenção nas suas subtramas, a exemplo do drama da perda da filha.
Além disso, a resolução do filme tem um lado de engodo, de mostrar algo ao espectador ocultando o fundamental, como em um truque de mágica. Se não tivesse que prestar contas ao público com esses chamarizes fáceis, o filme estaria mais perto de grandes ficções filosóficas como o "2001" de Kubrick ou o "Solaris" de Tarkóvkski.
Ainda assim, é preciso reconhecer a evolução de Villeneuve como cineasta. E dizer que é belo o filme que tem como moral da história a ideia de que a linguagem pode ser uma dádiva.
*
A CHEGADA (ARRIVAL) 
DIREÇÃO Denis Villeneuve
ELENCO Amy Adams, Jeremy Renner, Forest Whitaker
PRODUÇÃO EUA, 2016, 10 anos
QUANDO: Estreia nesta quinta (24)