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    Crítica

    Inspirada em Orwell, '3%' parece mais pastiche de 'Jogos Vorazes'

    ROBERTO DE OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    25/11/2016 02h12 - Atualizado às 13h14

    Vagamente inspirado no Grande Irmão da obra de George Orwell, mas mais próximo da estética "Big Brother", o novo seriado da Netflix, inteiramente brasileiro, aposta na distopia enquanto gênero e apresenta-se como uma espécie de thriller futurista.

    A história escrita por Pedro Aguilera se passa em dois locais imaginários: o Continente, carente de água, comida e energia, e o Mar Alto, um paraíso de riqueza e alta tecnologia destinado a pouquíssimos –os 3% que chegarão lá após uma bateria de provas.

    O processo seletivo, supercompetitivo e nem sempre justo, gerará revolta entre os candidatos a uma vida melhor.

    Em disputa estarão personagens um tanto esquemáticos: uma jovem idealista que guarda um segredinho, um rapaz egoísta, um cadeirante filho de um pastor, um líder.

    O argumento poderia dar ensejo a uma reflexão sobre o conceito de progresso ligado à tecnologia e sobre a distribuição injusta da riqueza, mas parece estar mais para pastiche de "Jogos Vorazes".

    É bom que se diga que, em comparação com outros sucessos de atmosfera distópica, como a série "Black Mirror" e o filme "Elysium", parece faltar ambição a "3%".

    De modo geral, o que se vê são diálogos pobres, ressaltados pela encenação postiça dos atores, à exceção de João Miguel, que bem encarna Ezequiel, misto de pastor evangélico com palestrante de autoajuda, a quem cabe gerir o processo de seleção.

    Vídeo

    De resto, o elenco reúne um punhado de jovens de rostinho bonito que, como se estivessem encenando uma peça do colégio, aparecem fantasiados de maltrapilhos.

    Difícil entender o que faz nesse ambiente a veterana Zezé Motta, que vive Nair, a todo-poderosa de Mar Alto.

    Eles, porém, não são capazes de sustentar sozinhos um roteiro que já nasceu capenga e, mesmo mirando o público jovem, exala naftalina.

    Nem mesmo Michele (a ótima Bianca Comparato, de "Sessão de Terapia", do GNT) consegue mostrar uma pontinha de brilho numa produção algo confusa como "3%".

    Chega a soar irônica a frase que Ezequiel não se cansa de repetir aos candidatos, à maneira de um apresentador de "O Aprendiz": "Você é criador do seu próprio mérito".

    Referência em séries, a Netflix desta vez não faz jus ao modelo que aperfeiçoou. A rede parece ter tropeçado na escolha desse roteiro. Por ora, quem conseguir chegar ao fim do primeiro episódio de "3%" já será forte candidato a habitar Mar Alto.

    3%

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